domingo, 27 de outubro de 2013

ANOTE AS DIFERENÇAS




Nos últimos tempos antes da crise das dívidas soberanas estava a enraizar-se a ideia sobretudo para empresários portugueses que a Espanha, tão aqui ao lado, representava uma extensão natural do mercado interno, sobretudo após o período algo longo que as empresas portuguesas precisaram para conhecer os meandros do mercado espanhol e aí intervir ativamente.
Após a crise das dívidas soberanas, com diferenças pronunciadas de grau e natureza nos fatores que determinaram a sua incidência em Espanha e Portugal, as pessoas em geral não puderam deixar de refletir sobre as diferenças que se foram manifestando entre as duas situações. A comparação entre uma situação de resgate formal e uma de resgate encapotado, dirigido sobretudo para a pólvora não seca do sistema bancário espanhol, começou a emergir e a ganhar relevância sobre a ideia do mercado interno alargado. É que se tratava de um mercado interno algo estranho com indicadores muito pouco ilustrativos de um mercado interno verdadeiramente integrado.
E neste anotar de diferenças não pode deixar de se registar a enorme diferença entre os dois países em matéria de regresso dos capitais estrangeiros. Já aqui me referi a esta questão e os últimos meses do presente ano têm confirmado a tendência para o regresso dos capitais estrangeiros. O suplemento económico de domingo do El País refere hoje a magnitude de 14.000 milhões de euros (dois quais 3.000 milhões respeitam ao imobiliário) para quantificar esse fenómeno proveniente não só de fundos especulativos, mas também do capital de risco, das grandes fortunas, fundos de pensões e fundos soberanos. O destino de tais fundos tem sido composto por ativos de rendimento variável, mercado imobiliário e participações em empresas. A Espanha apresenta-se barata e daí que à saída precipitada em massa observada após 2008, agora, os mesmos ou outros capitais estão a regressar aproveitando entre coisas a baixa de preços de ativos que se precipitou após precisamente a sua saída generalizada. Há evidências, entretanto, que esse regresso ainda não está a projetar-se claramente no investimento produtivo e não é seguro que tal movimento se traduza por um contributo direto para a minimização do problema de competitividade que a economia espanhola enfrenta. A participação, de pequena dimensão (6%), que Bill Gates assumiu na grande empresa espanhola FCC é apontada desesperadamente pelos analistas espanhóis como o grande sinal de mudança, mas parece ser uma euforia precipitada. É curioso anotar que para além do que seria de esperar em termos de venda de ativos imobiliário realizada pelo sistema bancário espanhol, há vendas massivas de ativos imobiliário por parte de municípios espanhóis, com a Comunidade de Madrid a vender 3.000 fogos do Plano Jovem e do Ayuntamiento de 1.860 habitações para arrendamento.
O propósito de anotar as diferenças continua pertinente. Neste caso, pode ser precipitado atribuir esta recuperação do mercado espanhol ao simples facto da economia espanhola não ter sido sujeita ao impacto de um resgate propriamente dito (tese muito cara aos que viam no PEC 4 a possibilidade de evitar o referido resgate). Há aqui um outro efeito e que muito conta para estas diferenças: a dimensão do mercado espanhol. Não é coisa pouca.

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