Nos últimos tempos antes da crise das dívidas
soberanas estava a enraizar-se a ideia sobretudo para empresários portugueses
que a Espanha, tão aqui ao lado, representava uma extensão natural do mercado
interno, sobretudo após o período algo longo que as empresas portuguesas
precisaram para conhecer os meandros do mercado espanhol e aí intervir
ativamente.
Após a crise das dívidas soberanas, com
diferenças pronunciadas de grau e natureza nos fatores que determinaram a sua incidência
em Espanha e Portugal, as pessoas em geral não puderam deixar de refletir sobre
as diferenças que se foram manifestando entre as duas situações. A comparação
entre uma situação de resgate formal e uma de resgate encapotado, dirigido
sobretudo para a pólvora não seca do sistema bancário espanhol, começou a
emergir e a ganhar relevância sobre a ideia do mercado interno alargado. É que
se tratava de um mercado interno algo estranho com indicadores muito pouco
ilustrativos de um mercado interno verdadeiramente integrado.
E neste anotar de diferenças não pode deixar de
se registar a enorme diferença entre os dois países em matéria de regresso dos
capitais estrangeiros. Já aqui me referi a esta questão e os últimos meses do
presente ano têm confirmado a tendência para o regresso dos capitais
estrangeiros. O suplemento económico de domingo do El País refere hoje a magnitude de 14.000 milhões de euros (dois quais 3.000 milhões respeitam ao
imobiliário) para quantificar esse fenómeno proveniente não só de fundos
especulativos, mas também do capital de risco, das grandes fortunas, fundos de
pensões e fundos soberanos. O destino de tais fundos tem sido composto por
ativos de rendimento variável, mercado imobiliário e participações em empresas.
A Espanha apresenta-se barata e daí que à saída precipitada em massa observada
após 2008, agora, os mesmos ou outros capitais estão a regressar aproveitando
entre coisas a baixa de preços de ativos que se precipitou após precisamente a
sua saída generalizada. Há evidências, entretanto, que esse regresso ainda não
está a projetar-se claramente no investimento produtivo e não é seguro que tal
movimento se traduza por um contributo direto para a minimização do problema de
competitividade que a economia espanhola enfrenta. A participação, de pequena dimensão (6%), que Bill Gates assumiu na grande empresa espanhola FCC é apontada
desesperadamente pelos analistas espanhóis como o grande sinal de mudança, mas
parece ser uma euforia precipitada. É curioso anotar que para além do que seria
de esperar em termos de venda de ativos imobiliário realizada pelo sistema bancário
espanhol, há vendas massivas de ativos imobiliário por parte de municípios
espanhóis, com a Comunidade de Madrid a vender 3.000 fogos do Plano Jovem e do
Ayuntamiento de 1.860 habitações para arrendamento.
O propósito de anotar as diferenças continua
pertinente. Neste caso, pode ser precipitado atribuir esta recuperação do mercado
espanhol ao simples facto da economia espanhola não ter sido sujeita ao impacto
de um resgate propriamente dito (tese muito cara aos que viam no PEC 4 a possibilidade
de evitar o referido resgate). Há aqui um outro efeito e que muito conta para
estas diferenças: a dimensão do mercado espanhol. Não é coisa pouca.
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