O PP continua encurralado entre a sua franja mais
conservadora e a tentativa algo desordenada de mostrar um ar de modernidade compatível
com os tempos que correm. A presença de praticamente toda a sua cúpula
dirigente na manifestação de Madrid, convocada objetivamente contra a sentença
do Tribunal Europeu de Direitos do Homem de Estrasburgo que anulou a aplicada
da chamada doutrina Parot (ver post da passada sexta-feira), não pode
deixar de ser interpretada como uma cedência óbvia a essa herança. É difícil
antever o que poderá representar este pronunciamento indireto do governo espanhol
contra uma sentença de um Tribunal Europeu, aliás assumida praticamente por
unanimidade.
Não vou seguramente especular com uma matéria de
delicada natureza para muitas famílias espanholas, conservadoras ou
progressistas não interessa. Mas, no El
País de hoje, o jornalista José Ignacio Torreblanca lembra com muita pertinência
que a Espanha não pode ignorar a importância que teve a solidariedade europeia
na batalha política e jurídica contra o fanatismo sanguinário da ETA. Entre
outros aspetos, Torreblanca sublinha que: “A Lei dos Partidos de 2002 não
marcou apenas um ponto de inflexão na luta contra o terrorismo, mas também o
fez com uma carga de legitimidade internacional que de outro modo se teria
voltado contra nós e teria fornecido oxigénio internacional aos grupos políticos
que apoiavam o terrorismo. Como o Tribunal Europeu assinalou na sua sentença a democracia
espanhola tinha a ‘necessidade social imperiosa´ de proteger-se contra as
formações que mantinham um compromisso indubitável com o terror e contra a
coexistência organizada no marco de um Estado democrático”.
O que o artigo de Torreblanca sublinha é que o
europeísmo ou é convicto ou parece descartável. A manifestação de hoje em
Madrid, embora assente numa dor que é provavelmente irrecuperável para muitas
gerações de espanhóis, representa também a dificuldade da direita espanhola
fazer a sua transição para a modernidade
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