domingo, 27 de outubro de 2013

A ESPANHA DE NOVO EM TRANSE (II)



O PP continua encurralado entre a sua franja mais conservadora e a tentativa algo desordenada de mostrar um ar de modernidade compatível com os tempos que correm. A presença de praticamente toda a sua cúpula dirigente na manifestação de Madrid, convocada objetivamente contra a sentença do Tribunal Europeu de Direitos do Homem de Estrasburgo que anulou a aplicada da chamada doutrina Parot (ver post da passada sexta-feira), não pode deixar de ser interpretada como uma cedência óbvia a essa herança. É difícil antever o que poderá representar este pronunciamento indireto do governo espanhol contra uma sentença de um Tribunal Europeu, aliás assumida praticamente por unanimidade.
Não vou seguramente especular com uma matéria de delicada natureza para muitas famílias espanholas, conservadoras ou progressistas não interessa. Mas, no El País de hoje, o jornalista José Ignacio Torreblanca lembra com muita pertinência que a Espanha não pode ignorar a importância que teve a solidariedade europeia na batalha política e jurídica contra o fanatismo sanguinário da ETA. Entre outros aspetos, Torreblanca sublinha que: “A Lei dos Partidos de 2002 não marcou apenas um ponto de inflexão na luta contra o terrorismo, mas também o fez com uma carga de legitimidade internacional que de outro modo se teria voltado contra nós e teria fornecido oxigénio internacional aos grupos políticos que apoiavam o terrorismo. Como o Tribunal Europeu assinalou na sua sentença a democracia espanhola tinha a ‘necessidade social imperiosa´ de proteger-se contra as formações que mantinham um compromisso indubitável com o terror e contra a coexistência organizada no marco de um Estado democrático”.
O que o artigo de Torreblanca sublinha é que o europeísmo ou é convicto ou parece descartável. A manifestação de hoje em Madrid, embora assente numa dor que é provavelmente irrecuperável para muitas gerações de espanhóis, representa também a dificuldade da direita espanhola fazer a sua transição para a modernidade

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