A história, anteontem
denunciada pelo diário “Handelsblatt”,
conta-se em poucas palavras. Ato um: em junho, e em conclusão de todo o
conjunto de procedimentos decisionais internos à União Europeia, estava
alcançado um acordo entre as diversas instituições comunitárias quanto a uma emblemática
e ambiciosa imposição de limites mais rígidos para as emissões de CO2 autorizadas
para veículos automóveis novos. Ato dois: a indústria automobilística germânica
contestou insistentemente uma tal transição para veículos menos poluentes,
procurando demonstrar a inexistência de condições favoráveis (em termos de
esforço de investimento requerido e de implicações sobre o preço a pagar pelo
consumidor) à concretização desse passo. Ato três: no Conselho Europeu de
junho, a Alemanha defendeu, pressionou e logrou obter um inédito adiamento da
votação da proposta que consubstanciava aquele acordo institucional. Ato quatro:
em inícios de outubro, terá ocorrido a doação à CDU pela família Quandt,
principal acionista do construtor automóvel alemão BMW, do significativo
montante de 690 mil euros. Ato cinco: escassos dias atrás, o Conselho de
Ministros Europeus do Ambiente votou favoravelmente o adiamento sine die
da reagendada votação.
É conhecida a importância decisiva da indústria automóvel
para a economia alemã, o que explica a permanente atenção/proteção das
autoridades em relação a tudo quanto possa ter implicações sobre as suas
condições de funcionamento. Também já se conhecia o facto de a referida
indústria possuir uma capacidade de lóbi, designadamente político, mais que
consentânea com o seu enorme peso específico, como aliás fora escandalosamente
visível durante o consulado de Gerhard Schröder. Conhecia-se ainda a lamentável realidade da hierarquia de
mando em vigor na crescentemente desestruturada União Europeia de hoje. O que já
não era amplamente sabido era que um tão estreito relacionamento económico-político
se estendia a Merkel – segundo uma lista governamental tornada pública pelo “Handelsblatt”, os patrões do ramo automóvel foram recebidos 65 vezes na
chancelaria durante a última legislatura.
E, afinal
de contas, as metas ambientais sempre hão de poder esperar...
(Niels Bo Bojesen, http://jyllands-posten.dk)
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