quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A AUTO-CHANCELER OU A VIRGINDADE INEXISTENTE


A história, anteontem denunciada pelo diário “Handelsblatt”, conta-se em poucas palavras. Ato um: em junho, e em conclusão de todo o conjunto de procedimentos decisionais internos à União Europeia, estava alcançado um acordo entre as diversas instituições comunitárias quanto a uma emblemática e ambiciosa imposição de limites mais rígidos para as emissões de CO2 autorizadas para veículos automóveis novos. Ato dois: a indústria automobilística germânica contestou insistentemente uma tal transição para veículos menos poluentes, procurando demonstrar a inexistência de condições favoráveis (em termos de esforço de investimento requerido e de implicações sobre o preço a pagar pelo consumidor) à concretização desse passo. Ato três: no Conselho Europeu de junho, a Alemanha defendeu, pressionou e logrou obter um inédito adiamento da votação da proposta que consubstanciava aquele acordo institucional. Ato quatro: em inícios de outubro, terá ocorrido a doação à CDU pela família Quandt, principal acionista do construtor automóvel alemão BMW, do significativo montante de 690 mil euros. Ato cinco: escassos dias atrás, o Conselho de Ministros Europeus do Ambiente votou favoravelmente o adiamento sine die da reagendada votação.

É conhecida a importância decisiva da indústria automóvel para a economia alemã, o que explica a permanente atenção/proteção das autoridades em relação a tudo quanto possa ter implicações sobre as suas condições de funcionamento. Também já se conhecia o facto de a referida indústria possuir uma capacidade de lóbi, designadamente político, mais que consentânea com o seu enorme peso específico, como aliás fora escandalosamente visível durante o consulado de Gerhard Schröder. Conhecia-se ainda a lamentável realidade da hierarquia de mando em vigor na crescentemente desestruturada União Europeia de hoje. O que já não era amplamente sabido era que um tão estreito relacionamento económico-político se estendia a Merkel – segundo uma lista governamental tornada pública pelo “Handelsblatt”, os patrões do ramo automóvel foram recebidos 65 vezes na chancelaria durante a última legislatura.

E, afinal de contas, as metas ambientais sempre hão de poder esperar...

(Niels Bo Bojesen, http://jyllands-posten.dk)

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