domingo, 13 de outubro de 2013

CONHECER OZU


Estas duas recentes estreias nacionais foram os primeiros filmes que vi de Yasujiro Ozu, realizador japonês em relação ao qual a minha curiosidade aumentara significativamente na sequência do resultado da votação dos realizadores questionados pela revista britânica “Sight & Sound”, considerando “Viagem a Tóquio” o melhor filme de todos os tempos (rivalizando com “Vertigo” ou “Citizen Kane”).

Apesar de a fasquia ter sido assim colocada tão alto, os filmes – aquele de 1953 e o outro de 1962 e que acabaria por se tornar a sua última obra em virtude da morte prematura do autor – corresponderam por inteiro às melhores expectativas, confirmando Ozu como um expoente da criação artística e um mestre do cinema clássico. Obras-primas, portanto!

A estética é “rigorosamente única”, composta como é por um sistema formal definido por constantes que tipicamente identificam o autor – citando o editor da “Time Out” de Londres: “o uso de planos curtos, filmados com a câmara quase sempre fixa e num ângulo invulgarmente baixo em relação às personagens em plano; cortes simples, em vez de fades, wipes ou dissolves; sequência de paisagens e edifícios não só para iniciar os filmes mas também para fornecer pontuação e ligações entre as cenas narrativas; a preferência pelos diálogos do ‘dia-a-dia’, ultra-realistas, muitas vezes de tipo aparentemente trivial; e uma preferência por histórias discretas, quase desdramatizadas e evocativas das vidas ‘normais’ da classe média, que compunha a maior parte quer da população japonesa quer, presumivelmente, do público de Ozu”.

Os temas retratados são de grande proximidade: a passagem do tempo e o desenvolvimento das relações num caso, o envelhecimento e o amor paternal no outro. Mas o seu tratamento é feito através de factos banais, quotidianos, como bem sublinha Jorge Leitão Ramos; embora adicionando: “E, todavia, nesses eventos quase sem história, tudo o que é essencial, tudo o que nos é vital: a vida, a morte, a solidão, o sofrimento, o desencanto. E lá no fundo, uma espécie de ironia de quem constata que a vida é assim e nem se entristece muito – tudo embalado numa beleza serena em que os atores sorriem quase sempre e, civilizadíssimos, os sentimentos nunca explodem.”

Concluo: ao contrário do que algumas ideias feitas fazem constar, a essência do grande cinema nipónico não se cinge ao génio de Kurosawa e Mizoguchi – a “genuína sabedoria sobre a natureza humana” que Ozu tão espessamente revela também o qualificam para um lugar imortal no pódio da sétima arte…

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