Uma excelente entrevista, dura e contida, de
Jorge Sampaio a António José Teixeira na SIC Notícias é o mote da crónica de
hoje. Poderia falar sobre as desabridas declarações de Mário Soares, disparando
para todos os lados, mas não é registo que colha a minha atenção. Jorge Sampaio
é ainda uma das raras personalidades e maneiras de estar que me fazem
identificar com o que se convencionou ser de esquerda.
A entrevista de Jorge Sampaio pôs os pontos nos
iii em várias matérias, mas o que me interessa destacar é o tratamento que deu
aos desvarios incontidos do papagaio Barroso, que do alto do seu frágil e
encomendado pedestal nos veio dar lições de moral e de bom comportamento e criticar
o Tribunal Constitucional português. O senhor Barroso não compreende, na sua ambição,
de que é um dos principais responsáveis pelo crescimento na Europa de
populismos de direita que poderão determinar nas próximas eleições europeias resultados
do arco-da-velha. A Frente Nacional em França ameaça ganhar as europeias, com
base de apoios inenarráveis, sobretudo os da classe operária. Na Áustria, o populismo
de direita vai-se reforçando. Na Holanda veio para ficar. O papagaio não
compreende que personifica, para mal dos nossos pecados, o que de pior se pode
associar à intervenção política na União Europeia, joguete e pretensa bissetriz
dos inúmeros interesses de mercado que capturam hoje a construção europeia. Ninguém
no burgo praticamente se indignou com o palrador senhor Barroso. Na sua contenção,
Jorge Sampaio veio hoje repor a dignidade dos que se sentiram insultados pela dissertação
ameaçadora de que o caldo estava entornado, mensagem de palrador amestrado pela
defesa instintiva do primado dos mercados e da sua peculiar conceção de
estabilidade. Bem haja!
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