segunda-feira, 28 de outubro de 2013

APRENDIZES DE CAMERON-OSBORNE



Há umas semanas atrás quando o FMI reviu em alta as perspetivas de crescimento do Reino Unido, Osborne (equivalente a ministro das Finanças) e o próprio Cameron, primeiro-Ministro) exultaram (não vindo daí nada de mal ao mundo), mas com o desplante de argumentar que tal notícia era a prova de que a política restritiva do governo conservador tinha funcionado. É de tal maneira grotesca essa posição que espanta o modo como se pretende iludir o cidadão comum, não necessariamente dotado de literacia económica. A questão de facto não está em iludir ou não a presença da recuperação económica. A questão relevante é a de saber que custos de baixa utilização da capacidade produtiva e de desemprego poderiam ter sido evitados no Reino Unido com uma política mais ativa de fortalecimento da procura, sobretudo nas condições de taxas de juro muito baixas com que a economia britânica poderia financiar-se hoje para proporcionar ritmos de crescimento mais elevados e uma recessão não tão longa. Como qualquer aluno mediano de economia sabe, o crescimento económico não resulta apenas da dimensão procura (penalizada pela política sobrerestritiva do governo britânico). Há também fatores de oferta e esses atuam a prazo independentemente das políticas de moderação ou permissividade orçamental. O ciclo económico existe e a uma recessão sucede mais tarde ou mais cedo uma recuperação. O problema está em não tornar o aparecimento desta última um processo demasiado dilatado no tempo, evitando assim os custos sociais associados e o risco do produto potencial a longo prazo ser afetado negativamente por uma recessão demasiado prolongada.
Pois, em Portugal, Cameron e Osborne têm os seus seguidores de meia tigela. Com a eminência da economia portuguesa sair da recessão técnica em que se encontrava, Portas e Maria Luís (tão convergentes que eles andam) exultam também com o facto. Ninguém os recrimina por tal facto. Mas afirmar como Cameron e Osborne que a saída da recessão mostra como a maioria estava certa na política económica que desenhou é um dislate perfeito. O problema não é que a recuperação chegaria um dia. Sabíamo-lo. Mas invocar tal facto como razão de acerto da governação em matéria de austeridade é pura mistificação. Seria de facto necessário provar que a recuperação não chegaria se a austeridade não tivesse sido praticada. E, por outro lado, importa assegurar que essa recuperação se consolide e venha a ser seguida de ritmos de crescimento suficientemente elevados para fazer diluir o efeito denominador no aumento do peso da dívida no PIB.
E, além do mais, associar a saída da recessão à boa governação da maioria é um perfeito e descarado insulto aos resistentes empresários, e à mão-de-obra que com eles trabalha, que têm proporcionado a dinâmica de evolução das exportações portuguesas nas condições de incerteza reinantes na economia europeia.
A tomada de posição emanada da SEDES (que não é propriamente uma associação esquerdista e de oposição) sobre a atual governação e sobre a destruição do clima de confiança que tem sistematicamente provocado mostra sobretudo os consensos alargados (não necessariamente partidários) com que uma governação alternativa pode ser construída. Só António Costa parece ter compreendido essa possível orientação. Seguro, pelo contrário, está mais preocupado em estabelecer as diferenças entre um segundo resgate e um programa cautelar e sobretudo interessado em capitalizar qualquer um deles. Entretanto, nas sondagens conhecidas, a votação do PS não dispara da obtida nas recentes autárquicas, sugerindo que essa possibilidade exige um golpe de asa não acessível a quem voa muito baixo.

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