quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PRIVADO?



Dos três ex-administradores executivos do Banco Privado Português (BPP) – que, após terem sido declarados arguidos por diversas práticas e tropelias, foram agora acusados pelo Ministério Público de burla qualificada e simultaneamente denunciados em parangonas jornalísticas por terem recebido 6,4 milhões de euros em salários, prémios, complementos e despesas (2,8 dos quais para o presidente) em 2008 (ano do pedido de falência do banco) –, não conheço de todo Salvador Fezas Vital mas conheci razoavelmente bem João Oliveira Rendeiro (JOR) e Paulo Guichard Alves (PGA).

A primeira vez que ouvi falar do primeiro foi no âmbito do Gabinete de Estudos Económicos do BPA quando um promissor recém-Ph.D. em “Business Economics” pela Universidade de Sussex, UK – sob a dissertação “Policies for change in the machine tool industry in Portugal : A study on market processes and public policies”, 1983 – por lá passou com o alto patrocínio de João Oliveira e Miguel Cadilhe. Essa década de 80 foi talvez aquela em que JOR foi mais bem sucedido (finanças pessoais à parte) e, em especial, o seu livro “Estratégia industrial na integração europeia: contributo para uma estratégia industrial agressiva em Portugal” (publicado em 1984 na excelente série “Estudos” do Banco de Fomento Nacional) contribuiu claramente para marcar uma época na análise e no ensino da realidade económica e industrial portuguesa. Cruzei-me então inúmeras vezes com JOR em seminários e conferências e ainda o reencontrei assiduamente quando ambos fizemos parte da Comissão Diretiva do Projeto “Construir as Vantagens Competitivas de Portugal” (vulgo “Estudo Porter”) no início dos anos 90. Depois, nas últimas duas décadas – ou seja, no período durante o qual fez a transição da consultoria económica para a área financeira e de negócios em que se foi envolvendo até à criação do BPP e seu posterior e rápido apogeu – quase lhe perdi o rasto pessoal.

Quanto ao segundo, conheci-o na mesma época (ou talvez um pouco mais tarde) enquanto aluno na Faculdade de Economia do Porto e, seguidamente, no Curso de Estudos Europeus da Universidade Católica no Porto. Era um jovem de boa presença, vivaço e interessado, que já não disfarçava uma natural procura de relações potenciadoras de novos projetos e desafios, na política (PSD), em termos de gestão empresarial (Grupo Amorim) ou empresariais propriamente ditos.

De toda esta digressão não importarão tanto os detalhes concretos como as perplexidades que alguns deles permitem suscitar quanto aos “porquês” de duas quedas não antecipáveis – no caso de JOR, p.e., em 2008 ainda João Cravinho, Diogo Vaz Guedes ou António Mendonça o chancelavam sem quaisquer reservas percetíveis (vide o lançamento do seu livro com o incrível subtítulo “a história de quem venceu nos mercados”), bem assim como vários amigos comuns igualmente oriundos da sua Murtosa natal –, quer nas carreiras estragadas quer nas desacreditações pessoais sofridas. Como foi possível? Está-nos, aos pobres e pecadores que constituem a raça humana, na massa do sangue? Ou foram “más companhias”? Ou será mesmo uma questão de prevalência do enquadramento sistémico (tipo “quem se mete com”)? Ou haverá outras justificações mais sofisticadas?

Factos são factos e eles aí estão em busca de um apuramento final. Enquanto aguardamos, reproduzo abaixo – com a devida vénia ao “Público” (e à Lurdes Ferreira?) – um esquema elucidativo de desviantes utilizações que certas combinações de inteligência e competência podem produzir…

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