(Custos unitários do trabalho relativos : índices cambiais efetivos deflacionados pelos custos unitários de trabalho relativos; um aumento significa aumento de custos dos exportadores)
O artigo de Richard Wood (EconoMonitor) aqui
comentado deixou-me dúvidas e indaguei junto do Banco de Portugal acerca do
estado da arte nesta matéria, designadamente sobre o papel de indicadores de
competitividade-preço na explicação do comportamento das exportações e da
procura externa líquida (de importações).
Via comentário sempre oportuno do meu amigo
Carlos Silva Costa, cheguei a um artigo relevante de dois economistas
portugueses, publicado pelo Banco Central Europeu, Paulo Soares Esteves e
António Rua (“Is there a role for domestic demand pressure on export performance?”,
Setembro de 2013.
O artigo, para além de documentar a já por mim
referida influência da taxa de câmbio real (para os países da zona euro o
comportamento relativo de preços dos bens transacionáveis e não
transacionáveis) no comportamento das exportações, conclui com alguma robustez
econométrica que o comportamento da procura interna, sobretudo ponderada pelo
seu conteúdo de importações, influencia com algum desfasamento temporal o
comportamento das exportações e fá-lo de modo assimétrico. Ou seja, quando a
procura interna tende a regredir de forma notória, essa situação tende a forçar
as empresas a buscar na procura externa a solvência de procura que o mercado
interno passa a não possibilitar. Esse efeito tende a ser mais forte do que o
observado na situação inversa, ou seja quando o empolamento da procura interna
pode conduzir as empresas a não privilegiar tanto a captação de mercados
externos.
Do ponto de vista teórico e conceptual, em meu
entender, esta conclusão não pode deixar de ser ponderada com dois aspetos que
influenciam provavelmente os resultados obtidos. Por um lado, a transferência
do mercado interno para o externo não é automática e exige processos de
aprendizagem e de conhecimento de mercados e de condições de comercialização
que são consumidores de tempo. Por outro e como corolário deste último, essa
transferência não é independente do nível de presença no mercado externo já
conseguido pelas empresas em busca de procura solvente. Quanto maior for essa
participação já conseguida, mais fácil e rápida será essa transferência.
O artigo fornece ainda algumas razões para os
problemas inerentes à utilização do custo unitário em trabalho como indicador
de competitividade. Alguns desses problemas dizem respeito à disponibilidade e
qualidade de dados, à inclusão no indicador de serviços não transacionáveis, à
forte influência das flutuações cíclicas da produtividade, a problemas de
agregação de setores muito heterogéneos, ao facto de cobrir apenas um custo de
produção e também à inclusão do setor público.
Acresce que para as economias de mais pequena
dimensão o seu estatuto de “price-taker”,
isto é, sujeitas a preços definidos no mercado internacional pelas condições de
concorrência, determina que a competitividade deva ser medida por outras
variáveis, tais como a relação qualidade-preço, as quotas de mercados ou mesmo
a lucratividade.
Em resumo, os indicadores de
competitividade-preço têm vindo a perder relevância e, no caso da economia
portuguesa, se é verdade que a taxa de câmbio real não perdeu importância
explicativa, a realocação de recursos entre o mercado interno e o externo
parece adquirir no período atual uma extrema relevância para explicar o
comportamento das exportações.
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