quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

DESVALORIZAÇÃO INTERNA E COMPETITIVIDADE



Já há algum tempo que não passava os olhos pelo EconoMonitor de Nouriel Roubini do qual costumo receber uma newsletter não paga, que fornece resultados de investigação relevante que a assinatura (paga) aprofunda. A razão é simples. Por razões de inscrição, recebo a referida newsletter no mail da Faculdade de Economia que mantenho (sempre foram mais de 30 anos ao serviço), mas a distância física (e afetiva) à Faculdade leva-me hoje a frequentar o webmail da FEP com menor regularidade.
Ora, nesta última consulta, dei de caras com um artigo de Richard Wood, que recupera os contributos de alguns economistas australianos, particularmente de Trevor Swan e Max Corden, que o meu colega de blogue bem conhece dos seus tempos da Economia Internacional, sobre equilíbrios macroeconómicos e externos de pequenas economias dependentes. Wood aplica esse instrumental às economias periféricas da zona euro, as quais com a exceção da Espanha se ajustam bem ao modelo de Swan-Corden.
A tese de Wood é sugestiva e requer alguma reflexão, para a qual solicito também a atenção do meu colega de blogue, bem mais identificado com estas questões do que eu.
O raciocínio de Wood começa por registar o apenas aparente êxito da chamada desvalorização interna (por via dos cortes e contenção de remunerações nominais), focando os resultados obtidos em termos do chamado custo unitário de trabalho, entendido como uma variável de aproximação à medida da competitividade. Medida por este indicador, a posição dos países da periferia da zona euro parece ter melhorado sobretudo a partir de 2009 relativamente à Alemanha e a França. De facto, os comportamentos das curvas dos custos unitários de trabalho nos primeiros revelam que estes descem quando comparados com a subida de idênticas curvas para estes últimos.

Ora não satisfeito com esta aparência, Wood calcula um indicador de competitividade baseado no preço das exportações. Como se trata de uma newsletter não paga, o autor não apresenta nesta versão a definição rigorosa deste indicador, mas intuo que seja um indicador de preço apenas de bens transacionáveis, ao passo que o custo unitário em trabalho reflete as condições de remunerações de toda a economia, incluindo os não transacionáveis. Vista por estas lentes, a desvalorização nominal parece não ter produzido qualquer efeito sobre a competitividade dos transacionáveis.
Do ponto de vista do que se aplicou em Portugal, os resultados de Wood coincidem com a evidência de que a desaceleração de remunerações aconteceu sobretudo nas atividades mais articuladas com o mercado interno. Mas conviria recordar que face às restantes economias da zona euro, a partir do momento em que a taxa de câmbio é a mesma (o euro é a moeda comum) é o comportamento do rácio de preços dos bens transacionáveis e dos não transacionáveis que define a taxa de câmbio real e, por conseguinte, a competitividade. Os resultados de Wood teriam de ser comparados com a evolução dos preços dos não transacionáveis. Matéria para reflexão posterior.
Wood trabalha ainda no artigo o cruzamento para estas economias dos desequilíbrios internos (medidos essencialmente pela taxa de desemprego) e externos (medidos pelo défice externo da balança corrente e o nível da dívida (não apenas pública), ambos medidos em % do PIB e para o período 2005-2012.
Mas isso é matéria para outro post.

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