Já há algum tempo que não passava os olhos pelo EconoMonitor de Nouriel Roubini do qual
costumo receber uma newsletter não
paga, que fornece resultados de investigação relevante que a assinatura (paga)
aprofunda. A razão é simples. Por razões de inscrição, recebo a referida newsletter no mail da Faculdade de
Economia que mantenho (sempre foram mais de 30 anos ao serviço), mas a distância
física (e afetiva) à Faculdade leva-me hoje a frequentar o webmail da FEP com menor regularidade.
Ora, nesta última consulta, dei de caras com um
artigo de Richard Wood, que recupera os contributos de alguns economistas
australianos, particularmente de Trevor Swan e Max Corden, que o meu colega de
blogue bem conhece dos seus tempos da Economia Internacional, sobre equilíbrios
macroeconómicos e externos de pequenas economias dependentes. Wood aplica esse
instrumental às economias periféricas da zona euro, as quais com a exceção da
Espanha se ajustam bem ao modelo de Swan-Corden.
A tese de Wood é sugestiva e requer alguma reflexão,
para a qual solicito também a atenção do meu colega de blogue, bem mais
identificado com estas questões do que eu.
O raciocínio de Wood começa por registar o apenas
aparente êxito da chamada desvalorização interna (por via dos cortes e contenção
de remunerações nominais), focando os resultados obtidos em termos do chamado
custo unitário de trabalho, entendido como uma variável de aproximação à medida
da competitividade. Medida por este indicador, a posição dos países da
periferia da zona euro parece ter melhorado sobretudo a partir de 2009
relativamente à Alemanha e a França. De facto, os comportamentos das curvas dos
custos unitários de trabalho nos primeiros revelam que estes descem quando comparados
com a subida de idênticas curvas para estes últimos.
Ora não satisfeito com esta aparência, Wood
calcula um indicador de competitividade baseado no preço das exportações. Como
se trata de uma newsletter não paga,
o autor não apresenta nesta versão a definição rigorosa deste indicador, mas
intuo que seja um indicador de preço apenas de bens transacionáveis, ao passo
que o custo unitário em trabalho reflete as condições de remunerações de toda a
economia, incluindo os não transacionáveis. Vista por estas lentes, a
desvalorização nominal parece não ter produzido qualquer efeito sobre a
competitividade dos transacionáveis.
Do ponto de vista do que se aplicou em Portugal,
os resultados de Wood coincidem com a evidência de que a desaceleração de
remunerações aconteceu sobretudo nas atividades mais articuladas com o mercado
interno. Mas conviria recordar que face às restantes economias da zona euro, a
partir do momento em que a taxa de câmbio é a mesma (o euro é a moeda comum) é
o comportamento do rácio de preços dos bens transacionáveis e dos não
transacionáveis que define a taxa de câmbio real e, por conseguinte, a
competitividade. Os resultados de Wood teriam de ser comparados com a evolução
dos preços dos não transacionáveis. Matéria para reflexão posterior.
Wood trabalha ainda no artigo o cruzamento para
estas economias dos desequilíbrios internos (medidos essencialmente pela taxa
de desemprego) e externos (medidos pelo défice externo da balança corrente e o
nível da dívida (não apenas pública), ambos medidos em % do PIB e para o período
2005-2012.
Mas isso é matéria para outro post.
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