(Bartoon, Jornal Público)
Miguel Sousa Tavares, sábado, Jornal Expresso, “Adeus
Europa”
“(…)
Os rumores de que a Europa (isto é, a Alemanha, Holanda, Finlândia e Áustria)
queriam empurrar Portugal para a tal “saída à irlandesa” – ou seja, sem
qualquer ameaça de custos acrescidos ou imaginados para os seus contribuintes,
em vésperas de eleições europeias – ficaram amplamente confirmados no encontro promovido
por “The Economist” para leitores ingleses, que também adoram ouvir estas
coisas. Por todos, o mais descarado foi o belga Peter Praet, economista-chefe
do BCE que, quando colocado perante a pergunta que tanto atormenta os políticos
e jornalistas portugueses, respondeu que há uma terceira saída possível, que não
é nem a limpa nem a assistida: é a da “monitorização reforçada”. E o que é
isso? É uma variante de 1640 que consiste em sermos deixados por nossa conta
perante os mercados, sem a rede alternativa de taxas de juro garantidas pelo
BCE, mas com as mesmas obrigações de prosseguir no recto caminho que o BCE,
Berlim e Bruxelas definiram como o único aceitável. Isto é: não há dinheiro nem
apoio, nem solidariedade europeia alguma – nem revisão das condições de
pagamento da dívida, nem mutualização parcial desta, nem união bancária, nem
uniformidade fiscal. Mas continuamos a ser “monitorizados” e “reforçadamente”
continuamos a receber ordens de fora e somos largados às feras para, assim
mesmo, conseguirmos retomar o crescimento económico em condições de absoluta
desigualdade com os potentados económicos europeus. E é para isso que um Passos
Coelho, que começa a sentir-se enganado e desamparado, quer agora a solidariedade
e cumplicidade do Partido Socialista. Schäuble mentiu-lhe, Merkel mentiu-lhe, o
BCE mentiu-lhe, o FMI mentiu-lhe. Quando esperava a recompensa pelo bom
comportamento e pelos indicadores de alívio conjuntural dão-lhe duas
palmadinhas nas costas e mandam-mo à vida, dizendo-lhe que “já fizemos a nossa
parte”.
O espertalhão, diletante e tão beato João César
das Neves dizia na RTP Informação que os europeus não querem dar nem mais um “tusto”
para as agruras da periferia (ele lá sabe as suas fontes), que é uma outra
maneira de focar o tema da crónica de Miguel Sousa Tavares. De qualquer modo, a
solidariedade europeia (mesmo que vigilante e rigorosa para estes
indisciplinados do sul) evaporou-se. Com esta perceção cada vez mais clara,
aumentará o número daqueles que começará a equacionar a hipótese de saída de tão
estranho clube. O PCP não é tolo ao formular a sua posição para as europeias.
Pedro Santos Guerreiro, Jornal Expresso, sábado, “Dar
voltas de 360 graus”
“(…) O que andámos
nós então a fazer? A pagar dívidas. O que andaram eles então a fazer? A obrigar-nos
a tal. Mas chegar a três meses do fim da troika e ouvir que “a vida da pessoas
não está melhor mas o país está muito melhor” é chocante. Essa frase, vagamente
salazarista, foi dita por Luís Montenegro ontem no Jornal de Notícias. E é a
confissão de uma missão que exclui. Que faz vítimas colaterais. Pode um
hospital estar melhor se os doentes estão pior? Uma escola estar melhor se os
alunos estão pior? Pode, claro que pode estar melhor. Mas não pode nunca ser
melhor”.
Se o tão cauteloso Pires de Lima se descaiu com a
ideia do “milagre económico” (que no dia seguinte assumia um exagero de expressão)
a razão mais plausível é o ambiente que se vive nas hostes por trás do
ministro. Aquilo que parecia impossível, recuperar eleitoralmente de tanta
atrocidade cometida na população eleitora, surge agora como luz no horizonte e
isso basta para salivar o mais doentio branqueamento da história recente.
Teresa de Sousa, Jornal Público, domingo, “A história,
a geografia e a política”
“(…) O facto
mais extraordinário desta crise ucraniana é que há gente que olha para a Europa
como um paraíso. E que está pronta a morrer por ele”.
Pois, estas coisas dos custos de oportunidade também
interessam para compreender o que se passa. A Europa desejada pelos ucranianos parece-nos
hoje aterradora, mas para os ucranianos a trajetória soviética parece mais
aterradora. Resta saber o que pensa disto a praticamente outra metade de
população ucraniana de ascendência russa. Provavelmente um país em fratura
total.
Inevitavelmente, José Pacheco Pereira, Jornal Público,
domingo, “O que diria no Congresso”
“ (…) “Medo” de falar num Congresso? Batam por favor a outra
porta, porque eu digo sempre as mesmas coisas, espantem-se, seja na Aula Magna
seja numa reunião ou debate partidário, institucional ou público, como muitos
militantes do PSD sabem muito bem, porque me ouviram. Depois há o anátema de se
falar nessa coisa maldita que é a comunicação social. Muitos que se
especializaram em fazer quotidianamente fugas para a comunicação social, e são
especialistas na intriga, também costumam queixar-se de quem tem acesso à
comunicação social, como se fosse um crime fazê-lo às claras e sem usar as “fontes
anónimas” para dar opinião. (…)”
Durante larga parte do fim-de-semana …
O regresso do sol para acumular energia e uma
meia dose de lampreia em Caminha para manter o ritual de todos os anos. Ciclos que nos
ajudam a manter vivos.
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