domingo, 2 de fevereiro de 2014

A GOLDMAN SACHS EM CHRISTIANSBORG

(Jens Hage, http://www.b.dk)

(Bob Katzenelson, http://www.b.dk)

Não é só nos States ou nos nossos CTT que a Goldman Sachs (GS) vai fazendo os seus estragos. Desta vez foi diretamente ao coração do governo de centro-esquerda dinamarquês, liderado por aquela social-democrata (Helle Thorning-Schmidt) que ficou famosa pelo selfie com Obama no funeral de Mandela. Tudo por causa da decisão do Partido Socialista Popular (SF) – também liderado por uma mulher (Annette Vilhelmsen) – de abandonar o executivo em que ocupava seis dos dezanove lugares ministeriais, na sequência de uma operação de privatização parcial da empresa elétrica pública (Dong Energy) que resultará em que a GS assuma 19% do capital desta através de um investimento pouco superior a mil milhões de euros. 

O descontentamento e as dúvidas relativamente à operação são generalizados (entre dois terços e três quartos da população, segundo as sondagens), alguns ainda influenciados pelo papel negativo atribuído ao banco de investimentos americano na crise financeira aberta em 2007/08 mas outros por razões mais intrinsecamente técnicas – como as que o anterior primeiro-ministro (Poul Nyrup Rasmussen) sintetizou ao afirmar que a GS irá pagar entre 25 a 40% menos por ação relativamente ao valor real da empresa –, contratuais – designadamente a existência de um direito de veto para a GS em determinadas matérias – ou de transparência – a aquisição é efetuada com intervenção de três paraísos fiscais, através de uma sociedade ad hoc montada no Luxemburgo ligada a outras duas sediadas em Delaware e nas Ilhas Caimão.

A defesa de Helle e do seu ministro das Finanças tem assentado, por seu lado, na débil situação financeira da companhia (dívida superior a meio milhão de euros) e na sua necessidade de liquidez para realizar novos e fundamentais investimentos (designadamente em energia eólica marinha) e preparar uma saída bem sucedida em bolsa em 2017. E não deixam de sublinhar ainda que, em qualquer caso, a posição do Estado permanece maioritária (60%).

Os cartunes acima são destes dias, representam as duas protagonistas do episódio e provêm do “Berlingske” local. Há também rumores de que a expressa vontade de Helle no sentido de não convocar eleições antecipadas, agora que o governo ficou reduzido a um apoio parlamentar de dois partidos (social-democrata e radical liberal) valendo 61 lugares num total de 179, possa ter menos a ver com política e mais com a sua esperança de poder vir a “emigrar” para Bruxelas...

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