quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

PRECIOSIDADES (25)

(Cartoon do António, http://expresso.sapo.pt)


Ainda não é desta que venho aqui pronunciar-me “por palavras minhas” sobre o livro de Gaspar por Avillez. Tudo por causa de um momento de particular inspiração de Bruno Nogueira no seu “Tubo de Ensaio” de ontem. Deixando a audição completa para uma eventual consulta do site da TSF, saliento meia dúzia de apontamentos preciosos que retive da peça em apreço.

O primeiro foi o de que o reaparecimento de Gaspar terá ocorrido demasiado cedo, sugerindo-se que o ex-ministro deveria ter esperado até termos algumas saudades, i.e., até lá para meados de julho de 2870.

O segundo tem a ver com o facto de o humorista constatar que Gaspar já não se lhe apresenta como o papão que antes lhe causava repulsa ou o aterrorizava, explicando contudo que “não fui eu que cresci, foi ele que mingou”.

O terceiro corresponde à imagem mais sugestiva ao equiparar acuradamente a incapacidade de Gaspar para cumprir quaisquer metas que se foi propondo a “uma bimby alemã que não conseguia fazer uma canja”.

O quarto decorre de Gaspar também ter regressado com uma narrativa, vista como tendo o seu quê de Miami Vice: o reformador e o negociador, respetivamente, eis como Gaspar pretende que se veja a dupla que Passos fez com ele.

O quinto é suscitado por uma afirmação de Gaspar segundo a qual é insultuoso pensar que ele foi o quarto elemento da Troika, tanto mais quanto esta estava sentada do outro lado da mesa, facto aquele que se tivesse sido conhecido em tempo certo muito poderia ter poupado aos portugueses em Grândolas e gritos de gatuno e aldrabão e facto este que não era de todo impeditivo de que por baixo da mesa ele e eles estivessem a empernar.

O sexto e último surge à conta de resumo e foi apresentado através de uma caraterização de Gaspar em dois tempos: “há quem sonhe a cores e há quem sonhe a preto e branco, o pensamento de Gaspar tem uma só cor, cinzento-algarismo” e tratar-se de um indivíduo para quem tudo é incerteza e imprevisibilidade e “a felicidade é o coma controlado”.

Bruno ainda meteu pela meio do seu texto mais umas buchas engraçadas – como aquela de não comprar o livro para não contribuir com dinheiro para a laca da Maria João Avillez ou a conclusão de que um personagem como Gaspar “ou era economista do FMI ou era serial-killer” e terá optado pela primeira hipótese “porque os serial-killers são muitas vezes apanhados” – mas julgo já ter avançado mais do que o bastante para fazer o pleno da concordância dos “humilhados e ofendidos” portugueses...

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