sábado, 1 de fevereiro de 2014

RENEGOCIAR A DÍVIDA?


Terá sido entregue na tarde de ontem na Assembleia da República a petição “Pobreza não paga a dívida – Renegociação já!”, promovida pela Iniciativa para uma Auditoria Cidadã (IAC) à Dívida Pública e contando com quase sete mil assinaturas de cidadãos (assim mais que qualificada para ser objeto de discussão em plenário). Entre os signatários estão algumas figuras respeitadas na sociedade portuguesa pela sua atividade cívica e/ou competência técnica, como é o caso de José Castro Caldas, Nuno Teles, Sara Rocha, Jorge Miranda, André Freire, António Carlos Santos, Eugénio Rosa, Isabel Castro, Sandro Mendonça, Ricardo Paes Mamede, João Rodrigues, Eugénia Pires, Irene Pimentel, Manuel Loff ou Mário de Carvalho, entre vários outros.

Mas o mais interessante desta iniciativa aberta está na pouco habitual qualidade (nestas circunstâncias) do “Relatório Preliminar do Grupo Técnico” divulgado sob o título “Conhecer a Dívida para Sair da Armadilha”, só por si largamente merecedor de uma análise mais detalhada. Não obstante, e antecipando conclusões a partir de uma primeira leitura na diagonal e de um quadro-síntese hoje publicado por Nuno Aguiar no “Jornal de Negócios”, o estudo privilegia uma reestruturação da dívida do Estado português e, nesse quadro, cenariza vários modelos possíveis dessa renegociação e defende um haircut de 50% como o mais adequado para uma eficaz correção da sustentabilidade daquela.


O trabalho não escamoteia também dois riscos particularmente determinantes: o reconhecimento dos efeitos sobre o sistema financeiro nacional (avaliados em necessidades de injeção de capital da ordem dos 12 mil milhões de euros para assegurar a manutenção dos respetivos rácios de solvabilidade) e em termos das possíveis expressões de discordância por parte das autoridades europeias (com especial destaque para o impacto muito negativo que necessariamente adviria de uma reação do BCE que pudesse chegar ao ponto de obrigar o país a uma “recuperação da soberania monetária”, uma designação bem mais elegante do que a substância do assunto). Pois é precisamente aqui que “a porca torce o rabo”, nestes dois obstáculos quase intransponíveis e que constituem em si a essência do problema tal como pessoalmente o encaro nos dias que vão correndo...

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