sábado, 1 de fevereiro de 2014

SÉRGIO REBELO EM ATLANTA



Via Mark Thoma no Economist’s View, o melhor blogue para nos proporcionar uma cobertura corrente e eficaz do que se vai produzindo pela blogosfera económica, tomo contacto com uma entrevista de Sérgio Rebelo, economista português há já longos anos nos Estados Unidos, que deve aqui ser sublinhada.
Sérgio Rebelo (SR) é um macroeconomista muito prestigiado nos EUA em regra conotado com teses mais liberais e costuma ser referenciado em Portugal como suporte de políticas desse cariz. A entrevista é realizada no âmbito de uma curta permanência do economista português no Federal Reserve Bank of Atlanta e publicada no macroblogue daquela prestigiada unidade da banca americana.
O tema da entrevista são os problemas da zona euro e por isso mesmo assumem uma outra relevância.
Questionado sobre a origem dos problemas na zona euro e particularmente acerca da vulnerabilidade dos países da periferia do sul da União Europeia, SR associa o problema a uma perversão afetação de recursos potenciada pela capacidade de financiamento a taxas de juro muito baixas, que penalizou os transacionáveis, por razões diversas nos diferentes países do Sul, em função da incidência diferenciada dos fenómenos de especulação imobiliária. Globalmente, estou de acordo e sempre insisti no modelo de crescimento tendencialmente perverso que a integração na zona euro potenciou em Portugal, agravado depois pelas réplicas sucessivas determinadas pelo abalo do Lehman Brothers.
Questionado para emitir uma análise crítica sobre as políticas de reação ao problema, cito, para memória futura e merecendo uma ampla reflexão:
“A meu ver, o BCE não seguiu uma política monetária suficientemente expansionista. De facto, a taxa de infação na zona euro tem-se mantido consistentemente abaixo dos 2% e o euro é relativamente forte quando comparado com um benchmarking de paridade de poder de compra. A zona euro virou-se para uma política fiscal restritiva como uma panaceia. Há boas razões téoricas para acreditar que quando a taxa de juro permanece constante o banco central não pondera devidamente a queda da despesa pública – o efeito multiplicador dos cortes de despesa pode ser muito elevado”.
(…) Teoria à parte, os resultados das políticas de austeridade implementados na zona euro são claros. Todos os países que seguiram esse tratamento estão hoje muito menos solventes do que no início dos programas de ajustamento geridos pela Comissão Europeia, FMI e BCE.”
SR termina com uma forte crítica à baixa exigência dos testes de stress realizados à banca europeia e com a afirmação de que o risco de deflação à japonesa é muito elevado.
Estava longe de imaginar que a crítica à macro idiotice europeia iria receber um apoio deste calibre.
Como é que esta entrevista será lida nas hostes dos jovens turcos economistas que pululam pela Universidade Nova de Lisboa, algumas franjas da Católica de Lisboa e pelos seus acéfalos seguidores nas juventudes políticas da maioria?

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