Via Mark Thoma no Economist’s View, o melhor
blogue para nos proporcionar uma cobertura corrente e eficaz do que se vai produzindo
pela blogosfera económica, tomo contacto com uma entrevista de Sérgio Rebelo,
economista português há já longos anos nos Estados Unidos, que deve aqui ser
sublinhada.
Sérgio Rebelo (SR) é um macroeconomista muito prestigiado nos EUA em regra
conotado com teses mais liberais e costuma ser referenciado em Portugal como
suporte de políticas desse cariz. A entrevista é realizada no âmbito de uma
curta permanência do economista português no Federal Reserve Bank of Atlanta e publicada no macroblogue daquela
prestigiada unidade da banca americana.
O tema da entrevista são os problemas da zona
euro e por isso mesmo assumem uma outra relevância.
Questionado sobre a origem dos problemas na zona
euro e particularmente acerca da vulnerabilidade dos países da periferia do sul
da União Europeia, SR associa o problema a uma perversão afetação de recursos potenciada
pela capacidade de financiamento a taxas de juro muito baixas, que penalizou os
transacionáveis, por razões diversas nos diferentes países do Sul, em função da
incidência diferenciada dos fenómenos de especulação imobiliária. Globalmente,
estou de acordo e sempre insisti no modelo de crescimento tendencialmente
perverso que a integração na zona euro potenciou em Portugal, agravado depois
pelas réplicas sucessivas determinadas pelo abalo do Lehman Brothers.
Questionado para emitir uma análise crítica sobre
as políticas de reação ao problema, cito, para memória futura e merecendo uma
ampla reflexão:
“A meu ver, o BCE não seguiu uma política monetária
suficientemente expansionista. De facto, a taxa de infação na zona euro tem-se
mantido consistentemente abaixo dos 2% e o euro é relativamente forte quando
comparado com um benchmarking de paridade de poder de compra. A zona euro
virou-se para uma política fiscal restritiva como uma panaceia. Há boas razões
téoricas para acreditar que quando a taxa de juro permanece constante o banco
central não pondera devidamente a queda da despesa pública – o efeito
multiplicador dos cortes de despesa pode ser muito elevado”.
(…) Teoria à parte, os resultados das políticas de austeridade
implementados na zona euro são claros. Todos os países
que seguiram esse tratamento estão hoje muito menos solventes do que no início
dos programas de ajustamento geridos pela Comissão Europeia, FMI e BCE.”
SR termina com uma forte crítica à baixa exigência
dos testes de stress realizados à banca europeia e com a afirmação de que o
risco de deflação à japonesa é muito elevado.
Estava longe de imaginar que a crítica à macro
idiotice europeia iria receber um apoio deste calibre.
Como é que esta entrevista será lida nas hostes
dos jovens turcos economistas que pululam pela Universidade Nova de Lisboa,
algumas franjas da Católica de Lisboa e pelos seus acéfalos seguidores nas
juventudes políticas da maioria?
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