segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

RENZI



A Itália parece suspensa do governo que Matteo Renzi estará em vias de formar, depois do golpe frontal que o presidente da Câmara de Florença desferiu sobre o seu próprio colega de partido social-democrata Enrico Letta, partido agora dirigido pelo próprio Renzi. A situação que dá origem à ascensão ao poder de Matteo Renzi é estranha para qualquer alma política que não sonharia uma tomada de poder por via não eleitoral, mas simplesmente por via interna de um partido que por acaso liderava uma coligação extremamente frágil e que continuará, sem novas eleições, a ser extremamente frágil.
Imaginem um cenário desta natureza. O PS ganha as legislativas de 2015 com maioria relativa reduzida, Seguro assume o poder com alguma fragilidade, a situação permanece incerta e entretanto há uma mudança política no interior do PS e por essa via o governo de Seguro entra em dificuldades. É algo de semelhante o que está a acontecer em Itália.
Devo confessar que não conheço em profundidade qualquer expressão consistente e com alguma dimensão do pensamento político de Renzi. Aliás é de ficar de pé atrás quando alguém se perfila na cena política ainda sob o referencial da mudança ideológica que Tony Blair representou para o governo trabalhista britânico. Enganado uma vez, vá que não vá, mas uma segunda vez já não é para a minha idade.
Renzi é conhecido pelo seu espantoso poder comunicacional, testado do ponto de vista político apenas na experiência autárquica de Florença (não é de facto uma cidade qualquer), mas não se lhe conhece nenhum toque de mágica para ultrapassar a situação italiana, mesmo que os mercados financeiros pareçam ter recebido bem a mudança.
Mas os problemas que o governo de Letta enfrentava serão exatamente os mesmos que vão colocar-se a Matteo Renzi e não será a sua jovem idade ou o seu poder comunicacional que os farão evaporar-se. E a distância face a Berlusconi parece muito reduzida, senão mesmo alguma admiração implícita parece aproximar as duas personagens.
Estaremos perante um Blair mais populista?
Há qualquer coisa intuitiva que me diz que o personagem vai sair melhor do que a encomenda. Oxalá me engane, pois a periferia da zona euro bem precisa de uma Itália combativa e o mais possível solidária com toda a periferia. E aqui é que o personagem pode roer essa corda.

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