domingo, 16 de fevereiro de 2014

O MELHOR DO FIM-DE-SEMANA



Vasco Pulido Valente, sexta-feira, no Público:
Não por acaso, evidentemente, em 1654 Portugal assinou o tratado de Westminster, que concedia à Inglaterra o direito de ter em Lisboa um juiz conservador da Nação Britânica, encarregado de julgar os súbditos do sacratíssimo Reino Unido e qualquer questão em que por qualquer motivo eles se vissem envolvidos. Também a França, a Espanha, a Holanda, a cidade livre de Hamburgo, ou seja, a Europa inteira, acabaram por conseguir o mesmo privilégio. Com uma extraordinária visão do futuro, o sr. Seguro reviveu estas boas práticas do século XVII, mas por enquanto não se lembrou de convidar juízes da “Europa”, da América, do Brasil e de Angola para facilitar os trabalhos da justiça; e de exigir a construção de uma cadeia moderna com boa cozinha e ar condicionado para um eventual cavalheiro obrigado a cumprir uns dias de prisão.”
Só o espírito corrosivo e implacável de VPV para arrasar o que me parece ser um dos maiores mistérios do PS dos últimos tempos ou seja quem terá sido o inspirador da mais desconchavada ideia pré-eleitoral que me lembro. Curiosamente, quase em simultâneo, José Miguel Júdice e o deputado socialista Alberto Costa defendem algo de mais sensato, a especialização de juízes (formação como fator crucial) e a criação de tribunais-piloto para resolver conflitos entre empresas.
Idem, domingo, Jornal Público
(…) O que mais me intriga, apesar do resto, é a geral atitude de apatia do jornalismo profissional. Não só não acha a ‘oligarquia’ ou a ‘fracção’, de que Capucho e Pacheco se queixaram, digna de investigação e de comentário, mas não lhes repugna aceitar em silêncio o que os ‘notáveis’ lhes metem pela goela abaixo. Ora este assunto não deve ser tomado como uma opinião trivial a propósito de uma querela partidária, pela simples razão de que afecta o regime inteiro. Como as diatribes do Dr. Soares contra a honestidade dos jornalistas não devem ser atribuídas à notória irritação da personagem. Claro que, se Portugal considera normal que pequenos grupos se instalem na direcção de um grande partido, com dinheiros de origem obscura, e concorda que os jornalistas são uma cambada de mercenários, o caso muda de figura. O melhor é fugir.”
Um bom tema de debate: até que ponto e em que medida a comunicação social que se faz em Portugal é cúmplice e responsável pela anomia política em que vivemos?
Eduardo Prieto, arquiteto e filósofo, no La Cuarta Página do El País, sábado:
“(…) O certo é que pouco importa que a inteligência urbana seja concebida como simples tecnologia aplicada ou como uma utopia ambiciosa à maneira da Telépolis ou da Cidade dos bytes; o perigo é que a cidade acabe nas mãos dos novos especialistas digitais e que os necessários papéis considerados pelo inatingível político ou o urbanista megalómano ou arquiteto acabem desvalorizando-se à medida que o que fazer deliberativo dos cidadãos anónimos, construtores materiais da vida urbana, é simultaneamente posto em causa. Se a complexidade da cidade pode reduzir-se à mera gestão digital de problemas concretos, então é necessário substituir os antigos hierarcas por outros e presumivelmente mais inócuos, os especialistas ou expertos digitais e os cidadãos deverão assim conformar-se e assumir um papel passivo. (…) Este ciberfetichismo de algoritmos e concertinas não resolverá os nossos problemas económicos e sociais, nem tão pouco os urbanos, pois que nos territórios e nas cidades não há mais inteligência do que aquela dos que os habitam. A conclusão foi antecipada pelo arquiteto e tecnólogo americano Lewis Mumford: não devemos pedir às máquinas mais do que elas realmente nos podem dar”.
Palavras sábias ou o retorno ao singelo como algo de perene face à efemeridade da sofisticação tecnológica.
Pedro Santos Guerreiro, Sábado, Expresso:
Vende-se, bom preço (…)
Vende-se austeridade. Custo: uma geração. Pagamento em recibos verdes.
Vende-se ilusão de ultrapassagem da crise. Custo: 130% de dívida pública.
Vendem-se anéis como se não fossem dedos, corpo como se não fosse a alma, palavras como se não fosse a palavra.
Compra-se: submarinos, estradas vazias, bancos falidos e dívida pública cara. Sem devolução. Paz? Pás!”
Recomenda-se a leitura de toda a crónica, um bom libelo contra todo o non sense a que o branqueamento europeu nos vai conduzindo.
José Pacheco Pereira, sábado, Público:
 "Perguntas que eu gostaria de fazer a propósito do 'milagre económico'
(...) Que papel têm no fechar de olhos europeu e da troika a estes resultados muito longe do previsto, as circunstâncias políticas das próximas eleições europeias com um ascenso claro de forças antieuropeias para quem a permanência da crise do euro e das dívidas soberanas é um argumento central?
Ou que papel tem na fácil aceitação de resultados medíocres, e mesmo no seu elogio público por responsáveis europeus, a consciência de que não é possível prosseguir estas políticas, entre outras coisas porque não existe consenso europeu para continuar a apoiar directamente os países do Sul endividados e, por isso, ser mais fácil fazer uma cosmética do sucesso do que uma verificação do falhanço? Ou por se temer que a má fama dos ‘protegidos’ do ‘protectorado’ atinja a boa fama dos ‘protetores’?
(…) Será que o Governo espera recolher os louros de curto prazo com uma saída ‘limpa’ e depois deixar os problemas de sustentabilidade da ‘limpeza’ para os seus sucessores na governação? Quem vier a seguir encontrará uma espécie de bomba de relógio deixada pela ‘saída limpa’ que permanece dormente durante dois anos e depois explode nas mãos de quem estiver no Governo?”
Perguntas que qualquer com um mínimo de senso crítico deve continuar a fazer, combatendo impiedosamente o branqueamento da encenação em curso, com cobertura europeia.
Judite Drench, Philomena, numa sala de cinema
O rosto de Judite Drench, serenamente implacável, é o mais contundente libelo acusatório de todas as omissões do fanatismo religioso, neste caso da igreja irlandesa mais profunda. A contenção de Stephen Frears é notável, num registo de realismo fílmico que tanto aprecio.

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