A publicação das Estimativas Rápidas trimestrais do INE veio aquecer o debate.
Estas três taxas de crescimento vão ocupar nos próximos
dias o espaço central da discussão política. Em termos homólogos face a anos
anteriores, a economia portuguesa inverte pela primeira vez depois de muitos
trimestres sucessivos a tendência de crescimentos homólogos negativos, passando
a terreno positivo. Relativamente ao trimestre anterior, a taxa de crescimento de
0,5% mantém o comportamento iniciado no 2º trimestre de 2013, embora não à taxa
observada nesse 2º trimestre (+1,1%). Finalmente, em relação ao ano de 2013, a
recessão do PIB manteve-se com uma queda de 1,4% do PIB, desacelerando essa queda
em relação a 2012, mas sendo superior à recessão de 2011.
Globalmente, qualquer que seja a maneira que peguemos
nas três taxas, não tenho qualquer dúvida em considerar que os ventos vão de
feição para a maioria. Isto não significa que a maioria tenha um contributo
relevante para este resultado. O que os valores significam é que sobretudo o
PS, que se tem deixado levar pelo taco a taco do quotidiano político, terá
agora uma maior dificuldade em combater os ventos de feição para a maioria, já
que os valores conhecidos proporcionam muito mais margem de manobra a discursos
tipo xico esperto Luís Montenegro na abertura do debate parlamentar de hoje do
que propriamente a um discurso de oposição consistente. Não é coisa que não
fosse antecipável. Apesar das forças restritivas da austeridade, o ciclo económico
existe, há empresas no mercado e estas têm que continuar a aproveitar
oportunidades mesmo que estas sejam estreitas.
O caráter muito sucinto das Estimativas Rápidas
impede qualquer tentativa de aprofundamento de análise, o que mais dificulta a
posição do PS.
Na minha interpretação, o único aspeto relevante
que sai da comunicação sucinta do INE é a afirmação inequívoca da instituição
de que os 1,6% se devem essencialmente à recuperação da procura interna,
essencialmente do consumo privado e, em segunda linha, à aceleração das
exportações de bens e serviços favorecendo o contributo da procura externa líquida.
Ora, esta matéria merece meditação. Em princípio,
o orçamento de 2014 volta a cascar e bem no consumo privado. Tendo em conta
que, adicionalmente, em períodos de maior crescimento o comportamento das
importações é muito elástico, reduzindo a procura externa líquida, então uma de
duas ou as duas em simultâneo: só o aumento do investimento e das exportações
de bens e serviços permitirá compensar o choque do orçamento de 2014 sobre o
consumo.
E aqui está o domínio mais promissor do debate
que a comunicação sucinta do INE tende a proporcionar.
Na minha interpretação, ponderando a não
probabilidade de registo de um salto considerável na taxa de crescimento das
exportações, então o foco estará no investimento público e privado que virá por
aí. Não estimo que a programação dos Fundos Estruturais tenha um impacto rápido
em 2014 no investimento privado. Daí que os foguetes para os dados de 2014
tenham provavelmente de esperar por melhores dias.
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