terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A LIÇÃO DE ROTH

(Andy Friedman, http://www.newyorker.com)

Considero Philip Roth um dos génios da literatura contemporânea. Americano e judeu, obsessivo e intimista, criador de uma espécie de alter-ego (Nathan Zuckerman) que é frequentemente protagonista ou narrador nos seus romances, a sua ficção nunca foi para mim tão marcante – apesar dos precursores “A Conspiração Contra a América”, “O Complexo de Portnoy” e “Teatro de Sabath” ou dos mais recentes “O Animal Moribundo”, “Indignação” e “A Humilhação” – como na “trilogia americana” (que alguns também caraterizaram como o “ciclo dos Estados Unidos perdidos”) – “Pastoral Americana” (a atormentada vida do empresário “Sueco” Levov durante os tumultuosos anos 60 da presidência de Lyndon Johnson), “Casei com um Comunista” (a ascensão e queda de “Iron Rinn”, um comunista que se tornou uma estrela do teatro radiofónico na era da caça às bruxas de McCarthy) e “A Marca Humana” (o relato iniciado durante o período de impeachment de Clinton da estranha história do respeitado professor universitário Coleman Silk confrontado com uma acusação de racismo associada a um passado comentário feito em sala de aula) – com que nos brindou na segunda metade dos anos 90 do século passado.

Roth declarara em 2009 que, para ele, a escrita tinha acabado e assim parece ter sido realmente. Em recente entrevista ao clube de leitura da Universidade de Stanford, a um mês de completar 81 anos, reafirma o sentido daquela decisão – “Não tenho qualquer vontade de me lançar num romance. Fiz o que fiz e acabou. A vida não é só escrever e publicar. Pode-se viver de outro modo, por mais estranho que tal possa parecer-me após todos estes anos.” – e deixa-nos um testemunho sábio e inolvidável, como quando se refere aos seus interesses do momento.

Nos seguintes termos: “Estudo a história americana do século XIX. Interesso-me por várias questões: a Confederação sulista, as 13ª, 14ª e 15ª emendas [sobre a abolição da escravatura e os direitos dos antigos escravos], a reconstrução, o Ku Klux Klan, o escândalo das atribuições fundiárias a companhias de caminho de ferro riquíssimas, a relegação dos Índios para as reservas, o expansionismo americano, o racismo dos Brancos anglo-saxões, o triunfo descarado do capital, os inícios da contestação operária, as grandes greves e a violência dos fura-greves, as leis instituindo a segregação racial, a imigração proveniente da Europa do Sul e de Leste, os 320 mil chineses entrados na América pelo porto de São Francisco, o voto das mulheres, os movimentos pela proibição do álcool... Acrescentando: Nado, interesso-me pelo basebol, pela paisagem, vejo filmes, ouço música, como bem e estou com amigos. No campo, a natureza delicia-me. Fica-me muito pouco tempo para pensar no envelhecimento, na escrita, na sexualidade ou na morte. No final do dia, estou esgotado.

Usufruir sendo é algo de grande complexidade e exigência, mas sair com dignidade é uma verdadeira arte...

Sem comentários:

Enviar um comentário