Quero realçar a importância e oportunidade do post do colega
Freire de Sousa sobre a controvérsia do Le
Monde sobre a identidade europeia, plasmada nas posições bem extremadas de Daniel Cohn-Bendit e de Alain Finkielkraut. A relevância do tema prende-se sobretudo
com o facto dele ser, a meu ver, um dos mais poderosos fatores responsáveis
pela impossibilidade de uma convergência estável à esquerda entre as suas
principais forças políticas. O fator divergência emerge do papel atribuído ao Estado-Nação,
princípio identitário para uns, origem de todos os males (guerras incluídas)
para outros, que tem a sua polaridade negativa no diferente significado atribuído
ao radicalismo de ultrapassagem das identidades nacionais e dos nacionalismos,
entendidos por uns como a melhor salvaguarda para lutar contra os interesses do
capital e para outros como uma forma avançada de organização do capitalismo,
logo também merecedor de combate sistemático.
Há uns meses, estive em Lisboa num debate
promovido pelo grupo dos Verdes do Parlamento Europeu, a convite do sempre
empenhado e diligente Rui Tavares, e
assisti ao vivo à força radical (pudera, as origens explicam muita coisa!) de
Cohn-Bendit. A superação do Estado-nação é não só vista por Cohn-Bendit como a
expressão máxima do internacionalismo, mas também como a única via para cada um
dos países da União Europeia vencer os desafios da globalização, na qual Estados-nação
com poder desigual e por mais identitários que se apresentem correm o risco de
ser engolidos pelas formas cada vez mais refinadas de organização do capital,
sobretudo o financeiro, mas também o industrial, à escala global. É neste âmbito
que Bendit defende que a identidade europeia não existe, constrói-se pela
diluição das identidades nacionais e que a permanência do Estado-nação como
elemento de construção europeia acabará por destruir esta última. Confesso que
tenho uma dificuldade quase absoluta de acolher este radicalismo e compreendo
os que como Finkielkraut nunca se sentirão representado por instituições
europeias, mesmo que eleitas. Mas será que os jovens de amanhã apressarão a
diluição das identidades nacionais? As diásporas de geometria variável, como os
jovens qualificados como os seus principais artífices e intérpretes, tenderão a
esbater as referidas identidades e a favorecer o sentimento de representação de
instituições europeias eleitas?
Com este potencial de divergência, é compreensível
a falta de convergência à esquerda de um projeto para as europeias, pois ele não
existe para própria construção europeia. Portugal não foge à regra e façam um
exercício simples de caracterização da caterva de forças políticas instaladas e
em preparação à esquerda à luz deste critério simples da controvérsia do Le Monde.
Não se satisfaçam com esse critério e lancem outros para mesa. O panorama é de divergência
potencial, não de convergência na ação.
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