Desde que Larry Summers lançou na conferência do FMI em Novembro de 2013 o tema da estagnação secular para caracterizar a lentidão
da recuperação da economia americana após se ter resolvido a crise de pânico
financeiro suscitada pelo caso Lehman Brothers, várias interpretações têm sido
avançadas para explicar o fenómeno. Quer isso significar que Summers marcou o
debate e muito poucos se podem orgulhar dessa capacidade. Summers tem-na e
usa-a nos momentos que considera mais adequados.
Na sequência das réplicas de interpretações que o
tema suscitou, espantou-me que a questão dos paradigmas tecnológicos não
tivesse ocupado o centro da discussão, sobretudo porque a história económica
das inovações no tempo longo nos diz que a história do capitalismo tem sido uma
sucessão de ciclos longos com duração-tipo compreendida entre 40 e 50 anos. Ora,
o paradigma das tecnologias de informação e comunicação já anda por esse período
de vida. Sabemos que não há determinismo histórico nestas coisas da inovação,
mas até por isso seria de esperar que o tema fosse mais associado à estagnação
secular invocada por Summers.
Finalmente, parece que o tema emerge na discussão
e já não era sem tempo. Em primeiro lugar, Robert Gordon, que é o economista
mais pessimista sobre o ritmo atual de inovação tecnológica nos EUA, acaba de
publicar um artigo no National Bureau of
Economic Research que estou a ler para análise próxima neste espaço. Há
dias, via Tim Taylor no excelente ConversableEconomist, apercebi-me da publicação pela McKinsey de um artigo de investigação que analisa através das dificuldades
de desenvolvimento da Lei de Moore o incipiente ritmo de desenvolvimento tecnológico
que subjaz à estagnação de que fala Larry Summers.
A lei de Moore é uma lei tecnológica enunciada por
Gordon Moore, um dos fundadores da INTEL, segundo a qual o número de transístores
num chip de computador duplicará de
dois em dois anos, lei que está na base do desenvolvimento da indústria de semi-condutores
e da transformação do chip no recurso chave do paradigma técnico-económico das
tecnologias de informação e comunicação.
O artigo da McKinsey não anuncia
catastroficamente a estagnação tecnológica, antes pelo contrário admite que a
lei poderá continuar a produzir efeitos durante mais cinco a dez anos. Mas o
que ele traz de novo é a distinção importante entre a capacidade de
desenvolvimento tecnológico da lei e os condicionalismos económicos que a podem
favorecer ou contrariar. E esta é uma ideia crucial: a inovação tecnológica não
existe dissociadamente das condições económicas que presidem à avaliação económica
das oportunidades suscitadas pelo desenvolvimento tecnológico.
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