quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

PRÓ-SEGURO

(António Jorge Gonçalves, Toon, http://inimigo.publico.pt)

Escapam à minha assumidamente limitada compreensão política as variações de descontrolado taticismo que o PS não se cansa de exibir em sucessivos tiros no seu próprio pé. E, mesmo reconhecendo que a essência dos erros terá tido o seu quê de inevitável ao ter ocorrido numa fase de arranque e difícil afirmação da nova liderança – com aquela incapacidade de viver com o passado socrático, nem o incorporando nem o renegando, e com aquela aprovação apressada do tratado orçamental da UE, ainda à boleia de uma grande inexperiência e de um convencimento de que uma maioria socialista estaria a chegar à Europa para modificar as prevalecentes regras do jogo –, o certo é que a insistência em certo tipo de detalhes irrita e afasta qualquer cidadão, do interessado ao eleitor.

Focando-me só nas aparentes minudências destes últimos dias, tivemos conhecimento de uma intrigante colaboração consultiva (devidamente louvada pelo Governo) na elaboração da proposta para o Acordo de Parceria com a UE, a continuação de uma interminável mostra de porta-vozes de duvidosa capacidade de expressão e empatia, a divulgação de que um correio eletrónico foi enviado aos militantes para sublinhar que a direção do partido não está nervosa com a aproximação de eleições a somar à informação da existência de uma mensagem escrita do líder a justificar-se ao comentador Marcelo e uma inenarrável conferência aberta a personalidades externas sobre a reforma do Estado.

Sobre esta última, organizada pelos aposentados e “especialistas” João Proença e Manuel dos Santos e contando com dois convidados escolhidos a dedo (o também aposentado e “especialista” Murteira Nabo e o cavaquista de serviço Vítor Bento), soube-se que já existem objetivos definidos e que eles passam pela fusão de ministérios e subsequente concentração dos serviços que deles dependem. E que terão sido dados os exemplos de uma desejada fusão dos ministérios da Economia e Finanças, “com maior peso para a Economia”, e de uma também desejada fusão de todas as entidades reguladoras numa só estrutura de que dependeriam “diferentes departamentos para as diferentes áreas”. Tudo genial, sobretudo a oportunidade destas referências em concreto a que só faltou mesmo dizer-se que iriam conduzir à ressurreição de Pina Moura para o ministério conjunto e de Constâncio para a reguladora-mãe.

O futuro a Deus pertence, mas António José Seguro ainda é, neste momento, o mais provável próximo primeiro-ministro de Portugal. Recaindo sobre os seus ombros a sobrante esperança de um muito considerável número de portugueses, brindo a que ele se consiga assenhorear da lucidez e energia necessárias a que possa resolver-se a adicionar à boa-vontade e seriedade que se lhe reconhecem uma entourage com outro mundo, aceitação, competência e eficácia. Sem o que tudo irá ficando cada vez mais preto...

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