A trajetória do PS nos últimos tempos tem sido um
verdadeiro rally, tipo prólogo inicial, com muitas provas de perícia, obstáculos
a contornar, pequenas retas para acelerar e tudo o que a comunicação política
tem para animar um evento dessa natureza, com muita malta a assistir. Mas o que
é um prodígio de orientação é o continuado amor e desamor face às negociações
com a maioria, ora arremete, ora negoceia sem grande escrutínio público. A
maioria agradece pois nunca terá imaginado que fosse possível sem grandes danos
aparentes marginalizar o principal partido da oposição, para logo depois apelar
ao mais profundo sentimento de responsabilidade nacional, tudo isto depois de
ter feito da concertação social um verdadeiro caco, perante um Proença que
apostara em ficar na história do sindicalismo democrático como um bonacheirão
com sentido de Estado.
Mas no meio de avanço e recuo emergem alguns mistérios
de compreensão difícil para um cidadão relativamente bem informado. Como aqui
evidenciei, tive alguma dificuldade em compreender a crítica violenta que Pacheco
Pereira dirigiu a António José Seguro pela sua negociação do IRC. Mas reconheço
que o que tem sucedido a partir desse momento dá razão a posteriori a essa crítica.
Hoje apetece-me falar da anunciada negociação que
o PS terá feito com o Governo acerca do Acordo de Parceria. É um assunto que
tenho fresco, pois a sua indeterminação oscilante até à recente entrega em
Bruxelas tem-me profissionalmente atormentado a paciência.
Ora, tendo tido acesso a algumas versões da trajetória
do Acordo de Parceria até à versão agora conhecida, dei de frente com a notícia
que o PS terá sido envolvido na sua negociação. Mas que grande mistério! Sabendo
que o investimento público nacional estará irremediavelmente associado ao
investimento com cofinanciamento comunitário que resultará da programação
enquadrada pelo referido Acordo de Parceria, será do melhor tom democrático que
o PS se explique sobre o que conseguiu negociar e que marca terá deixado com a
sua conhecida “dureza de negociação”. Um grande mistério e de escrutínio democrático
da oposição estamos bem aviados.
Ecos de imprensa mais recente colocam o PS a
negar tal negociação. O Económico refere “Hoje o PS avança que não tem havido
um trabalho conjunto, apesar de haver contactos sobre a matéria e do PS já ter
feito chegar ao Executivo as suas posições sobre os fundos comunitários”. Subtil
quanto baste. No Público, entretanto: “Foi um momento raro: o primeiro-ministro
elogiou a "participação responsável" do PS na elaboração da proposta
do acordo de parceria, o documento orientador da utilização dos fundos
comunitários no período 2014-2020. Mais tarde afirmou que vai tentar o consenso
com o PS no Documento de Estratégia Orçamental, DEO.”
Aceitam-se apostas sobre qual será o domínio
sobre o qual o PS vociferará ou manifestará o seu mais profundo repúdio. E para
aumentar a parada podemos já apostar sobre o tema da próxima negociação. Cheira-me
que isto não vai acabar bem.
E já agora essa ideia de desvalorizar a figura do
ministro das Finanças num eventual futuro governo PS com o argumento de um mega
Ministro Economia-Finanças, valorizando a primeira, vai seguramente correr mal.
Seguro ou quem a história e dinâmica dos acontecimentos colocar no poder tem de
compreender que é o primeiro-Ministro que os tem de ter no sítio para assegurar
uma boa síntese e convergência entre os dois ministros e os demais. Eu sei que é
duro não ser claro para ninguém quem poderá ser o ministro das Finanças de um
putativo futuro governo PS. Mas essa já é uma das minhas obsessões de observador.
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