Nos últimos dias, no meio da tragédia que se tem
abatido sobre partes significativas do território do Reino Unido, as televisões
têm-nos mostrado inúmeras poses do primeiro-ministro Cameron de galochas e
impermeável amarelo (como eles gostam de mostrar que são comandantes operacionais)
a passear pelas zonas atingidas, irradiando preocupação e poder de decisão.
O problema é que o governo conservador não sai
incólume de toda esta situação. Temos seguido neste blogue a posição
intelectualmente honesta de Simon Wren-Lewis, economista, professor em Oxford,
autor do Mainly Macro, que tem recolhido evidências de que há uma relação cada
vez mais legível entre a vulnerabilidade manifesta do território do Reino Unido
aos riscos das mudanças climáticas e a incompreensível política de austeridade
que o governo conservador assumiu a partir do momento em que assumiu o poder. Tenho aqui sinalizado de que é importante seguir o que se vai passando no Reino Unido
em vários domínios para compreender por antecipação o que nos pode também
acontecer na sequência da desvalorização acintosa do que é investimento público
e de quais são as más opções nesta matéria (incluindo aqui no saco das preocupações
também as discutíveis opções do governo Sócrates).
Simon Wren-Lewis volta à carga com uma crónica
que considero demolidora para as culpas no cartório da infelicidade de tanta
gente que o governo conservador transporta consigo, por mais que o operacional
(há coisas que não colam bem …) Cameron procure disfarçar com a sua presença no
teatro das operações.
Há duas vias (e não são de escoamento das inundações)
pelas quais os conservadores estão tão submersos nesta matéria como os territórios
do rural profundo britânico.
A primeira é o corte substancial no financiamento
público da prevenção de cheias que os Tories promoveram na sua sanha de redução
do investimento público.
A segunda é a clara desvalorização, senão mesmo
descredibilização, a que os Tories votaram o tema das mudanças climáticas,
colocando-se ao lado dos que têm vindo a acusar os cientistas envolvidos nesta
questão de sobre-alarme. Estou em crer que a posição dos Tories não assenta em
nenhum respaldo científico de peso, mas tão só na suspeição de que alinhar com
o pensamento dos cientistas mais preocupados com o tema significaria
compreensivelmente mais investimento público de prevenção e isso basta, tal
como cá, para afastar qualquer alinhamento com a ciência.
A síntese de Wren-Lewis é demolidora: “Se a conexão entre a austeridade e as recessões
prolongadas pode ser para muitos misteriosa, as ligações entre a falta de
prevenção das cheias e as inundações são demasiado óbvias. E o verdadeiro
perigo para o governo é que cada vez mais gente se aperceba de tais relações”.
Pois, caro Cameron o melhor é ir trabalhar para
as obras e montar no teatro das operações um gabinete de primeiro-ministro. Talvez
não chegue e a natureza não ajuda. Afinal, não se pode prever tudo, não é?
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