Já fede o tema das salvíficas exportações portuguesas, da heroicidade desses empresários anónimos que não sabem línguas mas nem por isso hesitam em se meter ao caminho dos mercados internacionais, da quotidiana ideia de estar em curso uma revolucionária renovação do tecido exportador nacional e demagogias quejandas.
Peguei nas nossas estatísticas de comércio externo (Nomenclatura Combinada) divulgadas gratuitamente online pelo INE e importei os dados mais relevantes para um excel que me serviu de auxiliar à realização de algumas contas básicas (nada de modelos sofisticados, por demais excessivos para o efeito) mas nem por isso menos elucidativas (gráficos acima, de melhor visibilidade se clicar sobre eles).
Sem prejuízo de aprofundamentos que considero justificativos de próximas incursões, aqui ficam desde já cinco comentários objetivos e preliminarmente potenciadores dessas futuras observações complementares:
1. Nestes três anos troikistas (comparando, no caso vertente, o ano de 2013 com o ano de 2010), as exportações portuguesas aumentaram em pouco mais do que 10 mil milhões de euros e atingiram um total de 47,34 mil milhões de euros.
2. Apenas catorze tipos de bens explicam quase três quartos do referido crescimento das exportações, com os combustíveis a explicarem só por si mais de um quarto desse mesmo crescimento (2,57 mil milhões de euros).
3. Dos treze produtos em causa (excluindo combustíveis), apenas sete registaram aumentos médios de exportação superiores a 100 milhões de euros anuais e apenas três conheceram aumentos médios de exportação superiores a 250 milhões de euros anuais.
4. O peso na estrutura das exportações portuguesas dos ditos catorze produtos, que representava 59,1% no início do período em análise, passa a ser equivalente a 62,4% em 2013, assim evidenciando um crescimento conjunto de 3,3% que é mais do que explicado pelo aumento do peso relativo dos combustíveis nessa estrutura (de 6,4 para 10,5%, assim ultrapassando os veículos automóveis enquanto principal produto de exportação do país).
5. Nenhum dos treze produtos sobrantes conhece um acréscimo de importância na estrutura das exportações portuguesas superior a 0,6%, o que vale por dizer que tende a ficar por demonstrar a proclamada renovação significativa do tipo de produtos portugueses melhor posicionados em termos de mercados internacionais.
Mesmo sem ir mais longe na matéria em apreço, designadamente verificando mais de perto a concentração das evoluções constatadas em termos de um pequeno número de grandes players (Galp à cabeça, mas também Repsol no mesmo setor de atividade, Autoeuropa e Peugeot Citroen nos veículos automóveis, Portucel-Soporcel na pasta para papel, Continental-Mabor nos pneus, Delphi e Bosch nos componentes e Siderurgia Nacional no ferro e aço), é antecipadamente de lamentar que a consistência da narrativa oficial e patriótica pareça tão claramente ferida de morte...
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