Volto ainda à questão do BCE, para tal recorrendo a um interessante gráfico publicado pela “Capital Economics” num dos mais recentes números da sua “European Economics Update” consagrado à discussão do que poderá seguir-se ao corte das taxas de juro da semana transata. Refere a propósito o seu economista-chefe para a Europa, Jonathan Loynes: “o banco central terá de trabalhar no duro para evitar que uma moeda forte [i.e., um euro em significativa apreciação] aniquile a frágil retoma e empurre a região para a depressão”.
O gráfico é muito eloquente ao mostrar a evolução comparada dos balanços dos principais bancos centrais desde setembro de 2008 (falência do Lehman Brothers), com multiplicações de dimensão tão diferenciadas nestes cinco anos quanto vezes 4,5 (FED), vezes 4 (BoE), vezes 2 (BoJ) e apenas vezes 1,5 (BCE); embora seja de registar que, neste último caso, se verificou uma significativa contração (o fator multiplicativo chegou a rondar os 2,5 em 2012) à medida que os bancos foram pagando as suas LTRO’s.
Ou seja, parece bem claro que o BCE, tendo conseguido dar uma primeira e adequada resposta às enormes pressões a que se encontrava sujeito, não deixou por isso de manter em aberto a necessidade de levar a cabo atuações de maior fôlego e uma expectativa de que as poderá vir a concretizar. E, como explicitamente avança aquele autor, talvez não bastem as três opções mais óbvias (novas intervenções verbais diretas, outro corte nas taxas de juro e assim impondo taxas de juro negativas para os depósitos bancários, mais LTRO’s para pelo menos contrariar a tendência descendente do seu balanço).
Com efeito, Loynes conclui a apresentação do seu ponto de vista nos seguintes termos: “Mas é duvidoso que estas medidas fossem suficientes para terem uma influência material sobre o euro quando outros bancos centrais ainda se encontram envolvidos em medidas de política mais decisivamente não convencionais. Se realmente quiser fazer baixar o valor do euro, o BCE precisará de por as suas objeções ideológicas de lado e de se empenhar em pleno quantitative easing. Mas ainda está longe de ser claro que esteja preparado para o fazer.”
Tudo indica, pois, que virá efetivamente a colher a ideia avançada pelo António Figueiredo de uma forte e paradoxal probabilidade de Mario Draghi ter de continuar a desempenhar o papel a que tem vindo a ser conduzido pela dura realidade, qual “resistente” no quadro de uma fronda que seguramente nunca pensou lhe estivesse destinada...
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