quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A CONFERÊNCIA DE SOARES



Não vos sei explicar com clareza, mas a iniciativa convocada por Mário Soares designada de “Em defesa da Constituição, da democracia e do Estado social não me está a entusiasmar e muito menos de maneira a justificar uma viagem a Lisboa.
Parece-me uma iniciativa exclusivamente reativa, vale por um pronunciamento de elites, como hoje Manuel Alegre o destacava, mas receio bem que a população portuguesa já não dê atenção suficiente a este tipo de elites e que a iniciativa lhes seja totalmente indiferente.
Entusiasmar-me-ia bastante mais estar desde já a preparar e a discutir o que é que um governo PS, eventualmente fortalecido com apoios não partidários mas de personalidades e organizações de centro-esquerda, poderá fazer nas condições em que o poder lhe chegará às mãos sobre as questões que marcam o foco da iniciativa de Soares. A minha costela reformista e de estudioso interveniente das políticas públicas sobrepõe-se sempre a estes grandes ajuntamentos de esquerda. Pois receio bem que muita desta gente que aparecerá por certo na iniciativa terá de amargar o pão que amassou se quiser estar com uma governação PS, mesmo que reforçada à esquerda nos termos que enunciei. As margens de manobra vão ser muito estreitas e a esquerda não comunista vai defrontar-se com escolhas públicas que não está habituada a equacionar no seu “wishful thinking” diletante, longe das grandes interrogações da governação. Por isso, não rejeitando a indignação e a resistência contra a vulgarização de quebras democráticas a que temos sido sujeitos, é tempo de alguém começar a discutir com tempo, ponderação e abertura de ideias as margens de manobra para fazer diferente. E não dissociar essa preocupação de uma outra, a de preparar as Europeias nessa perspetiva, pois a nossa margem de manobra estará indissociavelmente ligada à questão europeia e ao modo como se resolverá ou agravará o desconchavo em que o projeto europeu está mergulhado. 
Não preparar essas condições com tempo colocará a esquerda numa situação de tal fragilidade que a violência que agora se abate sobre a atual maioria e que Soares desabridamente invoca para pedir a demissão de Governo e Presidência abater-se-á também sobre quem acena com a alternativa e não a consegue concretizar. Para memória futura.
 

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