terça-feira, 26 de novembro de 2013

MISTÉRIOS ALEMÃES



O Economist desta semana analisa em particular o paradoxal comportamento dos alemães em termos de comportamentos de poupança e investimento. O comportamento aforrador permanece elevado, embora a partir de 2008 evidencie sinais de afrouxamento com queda ligeira da taxa de poupança. Porém, em matéria de investimento, uma baixa percentagem de alemães investe em ações nacionais (15%, valor anomalamente baixo sobretudo quando comparado com o valor de 50% apontado aos americanos), preferindo padrões de poupança de baixo risco.
Este comportamento massivo de aforro, que garante às famílias alemãs um rendimento apreciável, entra nas contas para a explicação de um dos mistérios da economia alemã, pelo menos do ponto de vista da sua compreensão seja pelo cidadão comum, seja por um indivíduo com literacia económica média.
O gráfico que abre este post dá conta de um desses mistérios. Na perspetiva do rendimento que auferem anualmente, os alemães evidenciam compreensivelmente rendimentos elevados, medidos no gráfico pela mediana desse rendimento. Porém, quando se mede a riqueza mediana da população alemã, ela apresenta uma aparentemente estranha baixa riqueza. Não há informação que mostre se esta evidência é ou não responsável por alguma incompreensão, atiçada por alguns economistas e meios de informação alemães, relativamente aos países do sul, que aparecem no gráfico com riquezas medianas mais altas. Vários fatores podem explicar esta estranha disparidade, sendo frequente apontar-se o facto dos alemães apresentarem uma baixa taxa de habitação própria. O Economist acrescenta a esse facto a magnitude do rendimento que os alemães extraem da sua vigorosa capacidade de poupança, que faz balancear a sua situação relativa face às economias do sul a favor do rendimento e não da riqueza.
Este fator estrutural, que faz pensar que os alemães sejam o Japão da Europa em termos de hábitos e massa de poupança, pesa muito na fraca concretização da vontade assumida por muitos europeus (sobretudo os do sul) de que os alemães poderiam consumir mais. Mas se para as famílias este facto é relevante, nada justifica que o governo alemão se assuma ele próprio no momento atual como um apreciável aforrador líquido.

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