domingo, 24 de novembro de 2013

UMA PLATAFORMA MAIS AMPLA



Pedro Adão e Silva, hoje no Bloco Central das manhãs de sábado na TSF, falava do estranho afastamento do PS relativamente à construção de uma plataforma mais ampla de construção de uma alternativa de governação que pode vir a constituir a solução que lhe restará para assumir o poder.
De facto, à medida que o tempo corre e Seguro se afasta dos diferentes pronunciamentos cívicos e suprapartidários que vão emergindo na cena política portuguesa, mais evidente parece a improbabilidade de uma maioria absoluta nas legislativas próximas, sejam elas antecipadas ou se realizem no seu tempo normal. Assim sendo, uma de duas hipóteses pode ocorrer: ou se forma uma coligação de governo (de centro esquerda ou de esquerda, esta bem mais remota) ou o PS terá de governar à vista de acordos parlamentares e, neste caso, necessitaria de uma plataforma mais ampla de suporte ao governo. A construção dessa plataforma mais ampla pode assumir várias modalidades, uma das quais pode passar por um forte e decisivo apoio de um acordo de concertação social e um envolvimento mais regular e participado do Conselho Económico e Social. Se for apoiado por um acordo desse tipo, o governo PS poderia dispor no Parlamento de uma referência de peso, colocando os restantes partidos com representação parlamentar numa situação muito difícil, tornando os acordos parlamentares para matérias específicas como o Orçamento de Estado de menos problemática concretização. Mas a construção dessa plataforma mais ampla pode passar também pela composição do elenco governativo que pode passar pela inclusão de personalidades representativas de correntes de opinião e de instituições que podem e muito ajudar à credibilização da solução governativa encontrada.
Nenhuma destas alternativas se constrói do nada e por isso necessitam de tempo e maturação para serem concretizadas. Ora o PS parece entrincheirado e não dar mostras de querer enveredar pela sua abertura a estes alargamentos da via partidária. Talvez o faça por se ter deixado embarcar no jogo continuado da atual maioria que ora desrespeita e ignora o PS, ora se lança no pouco consistente apelo à negociação.
Ora é neste contexto que emerge a iniciativa do LIVRE, novo partido ou movimento (o futuro o dirá) animado por Rui Tavares, focado na procura de uma convergência para a esquerda. Das primeiras iniciativas do partido/movimento agora constituído surge o lançamento à discussão aberta do documento Roteiro para a Convergência.
Pelos poucos momentos de colaboração que tive com Rui Tavares na sua qualidade de deputado europeu parece-me alguém muito bem intencionado que acredita nas suas ideias de não dissociar a construção cívica de uma alternativa para o País de um europeísmo renovado. Gostei do seu entusiasmo, da sua persistência e da sua postura. Não sei se o LIVRE será direto ou indireto e se conduzirá a um resultado concreto.
O Roteiro para a Convergência é um documento muito simples, artesanal que começa com uma proposta A bem ilustrativa desse caráter artesanal: “(…) a realização de um questionário, a enviar aos partidos, sindicatos, movimentos sociais e cidadãos individuais que se reconheçam como fazendo parte da esquerda portuguesa, e tendo por objeto as causas, consequências, e possíveis soluções para ultrapassar os bloqueios à esquerda. Este questionário poderia incluir perguntas sobre os obstáculos formais e informais à cooperação entre as várias partes; diferenças substanciais de propostas política que impossibilitem o diálogo ou a apresentação de propostas comuns; entendimentos diversos das posições políticas de cada um e das fronteiras dos conceitos de esquerda e progressismo no plano nacional; e ainda uma área aberta para a adição de quaisquer outras reflexões que os respondentes considerem essenciais”.
Não deixa de ser “original” iniciar a constituição de um partido/movimento com um questionário. Mas parece-me que isso reflete a ingenuidade artesanal do movimento. A proposta B – fundação de um fórum consultivo permanente entre forças de oposição, partidárias ou não, às atuais políticas nacionais e europeia completa o quadro simples de propostas, suportadas por dois objetivos centrais – a construção de um arco constitucional e a constituição de uma frente progressista.
Não creio que seja possível uma convergência à esquerda em Portugal, pelo menos entre as suas três principais forças políticas, PS, PCP e Bloco de Esquerda e por isso não posso deixar de apreciar a ousadia e perseverança dos que estão na origem do LIVRE. Penso que a alternativa de construção de uma plataforma mais ampla a partir de um governo PS é mais exequível. Já no que respeita à atenção que o Roteiro para a Convergência dá à construção de listas conjuntas, cidadãs e partidárias às próximas eleições europeias me parece que se trata de outra música e essa mais consistente. O que se anuncia em matéria de candidaturas às listas a apresentar pelos principais partidos portugueses às europeias cheira-me a algo de tenebroso que pode traduzir-se numa composição para esquecer dos próximos deputados portugueses no PE. Oxalá me engane. Por isso, tudo o que permita contrariar a descredibilização em marcha do próximo grupo de deputados portugueses no PE vale a pena ser seguido com atenção.

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