domingo, 10 de novembro de 2013

SMAGHI É DOS QUE DÁ LUTA …



Não é fácil encontrar economistas que deem a cara e rejeitem fundamentadamente a tese hoje muito mais generalizada de que as políticas de austeridade representam um forte entrave a uma mais rápida recuperação da economia europeia e às perspetivas de crescimento económico mais elevado. Os defensores de tais posições têm-se refugiado quer no “quem tem poder manda” dos alemães, quer numa vaga invocação de que os “mercados” torceriam o nariz a um ajustamento mais lento e menos penoso para as economias do sul.
Por isso, quando alguém rompe essa barreira da não fundamentação para discutir alguns argumentos com um mínimo de solidez que valha a pena abrir o debate, vale a pena dedicar-lhe alguma atenção.
Lorenzo Bini Smaghi, professor visitante da Universidade de Harvard, está nesse campo ao propor no VOX EU um pequeno artigo designado de Austerity and Stupidityno qual procura desmontar a pretensa estupidez dos que teimam contra todas as evidências em persistir com as políticas de austeridade, mostrando que a estupidez pode estar em não recorrer a políticas mais favoráveis.
Smaghi joga com algumas correlações econométricas, embora considere que tal exercício só pode ser exploratório, pois com onze observações qualquer estudante de economia sabe que não senão explorar algumas ideias e abster-se de qualquer perspetiva conclusiva.
Eis alguns resultados exploratórios proporcionados pelos exercícios singelos de Smaghi:
  • Se não incluirmos a Grécia na análise a correlação negativa entre peso da austeridade e crescimento do PIB surge bastante menos robusta do que se a incluirmos (pergunta-se: por que razão retirar a Grécia sendo esta o caso mais extrema do peso da austeridade no PIB?);
  • O crescimento económico mais fraco surge também fortemente negativamente correlacionado com indicadores de dificuldades financeiras (os yields da dívida pública a 10 anos) e de dificuldades de crédito (taxas de juro de empréstimos de novos negócios);
  • O crescimento económico mais baixo tem também uma forte correlação com os indicadores de competitividade (quanto piores estes últimos mais baixo o crescimento económico);
  • O crescimento económico é também fortemente penalizado por baixos indicadores de acesso à internet e de literacia numérica.


O que Smaghi pretende demonstrar é que não foi a austeridade que determinou o baixo crescimento, mas sim que o baixo crescimento potencial provocou a austeridade.
A tese de Smaghi não é tão radicalmente heterodoxa como ele imagina. Ninguém com bom senso económico rejeita a ideia de que o crescimento económico pode ser inibido ou penalizado com baixos níveis de competitividade ou com dotação desfavorável de fatores favoráveis. Ninguém nega que os países sob intervenção padeciam de constrangimentos estruturais sérios ampliados por más decisões de política económica, responsáveis por deficiente afetação de recursos de capital na economia. O que está fundamentalmente em causa é que o ajustamento dessas economias, impuras e com os referidos constrangimentos estruturais, é fortemente agravado com o referido peso da austeridade e com processos de ajustamento nada amigos do crescimento como Draghi reclamou na sua última comunicação. E aqui não são as correlações exploratórias de Smaghi a negá-lo.

Sem comentários:

Enviar um comentário