quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CETICISMO BRUXELENSE



Como referi em post anterior, tem-se sucedido nos últimos tempos, talvez devido à antecâmara do acordo Merkel – SPD na Alemanha, a publicação de documentos sobre os contornos e cenários possíveis da evolução do projeto europeu e do euro em particular, não esquecendo aqui também o trabalho do Conselho de Economistas que apoia o governo alemão. Ainda ontem, numa deambulação de fim de tarde por uma das minhas livrarias de estimação (A Tropismes nas Galeries de la Reine em Bruxelas, adquiri para leitura próxima um desses documentos, mais propriamente a obra La Fin du Rêve Européen de François Heisbourg (presidente do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos e do Centro de Política de Segurança de Genève), editado pela Stock. O tom ao acaso de uma referência avulsa do livro (“Federalismo impossível, instituições contestáveis, povo não encontrável, economia detestável: a Europa morre das suas doenças”, terrível não?).
O ceticismo bruxelense de que falo não é alimentado por este tipo de obras ou reflexões. É um ceticismo mais sensorial, resultante de dois dias de trabalho e meio em pleno universo bruxelense. Quando se é confrontado com a massa de gente que as instituições representam naquela cidade e arredores, interrogo-me frequentemente se toda aquela gente que se cruza comigo no metro, cafés (tão poucos tem Bruxelas) e nos restaurantes está consciente das encruzilhadas que se abrem ao tão precário projeto europeu. A máquina funciona, se não fora por outros motivos pela simples inércia de existir. E as minhas dúvidas aumentam quando uma conversa ali, outra acolá mostra que as tais encruzilhadas estão bem longe das cogitações daquela massa de funcionários.
Não me custa admitir que o euroceticismo tem boas condições para proliferar e será trágico que não se dê conta disso mesmo, contrariando na base as origens do fenómeno. E como isto de reflexões algo céticas é algo de similar às cerejas, no Libération de hoje fiquei arrepiado com uma reportagem do jornal sobre um conjunto de territórios em que o desemprego juvenil e de longa duração cresce explosivamente (Béziers, Valenciennes, Angers e tantos outros) e que são territórios em que a Frente Nacional dispara como rastilho seco. A derrocada da França será fatal para o projeto europeu e algo de sinistro se passou à esquerda na política francesa. Hollande e Mélenchon destruíram em tão pouco tempo um capital de confiança que as eleições lhe proprocionaramm com eclipse trágico de ideias, mobilização, confiança.

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