Como referi em post anterior, tem-se sucedido nos últimos tempos, talvez devido à
antecâmara do acordo Merkel – SPD na Alemanha, a publicação de documentos sobre
os contornos e cenários possíveis da evolução do projeto europeu e do euro em
particular, não esquecendo aqui também o trabalho do Conselho de Economistas
que apoia o governo alemão. Ainda ontem, numa deambulação de fim de tarde por
uma das minhas livrarias de estimação (A Tropismes nas Galeries de la Reine em Bruxelas, adquiri para leitura próxima um
desses documentos, mais propriamente a obra La Fin du Rêve Européen de François Heisbourg
(presidente do Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos e do Centro de
Política de Segurança de Genève), editado pela Stock. O tom ao acaso de uma
referência avulsa do livro (“Federalismo impossível, instituições contestáveis, povo não
encontrável, economia detestável: a Europa morre das suas doenças”,
terrível não?).
O ceticismo bruxelense de que falo não é
alimentado por este tipo de obras ou reflexões. É um ceticismo mais sensorial,
resultante de dois dias de trabalho e meio em pleno universo bruxelense. Quando
se é confrontado com a massa de gente que as instituições representam naquela
cidade e arredores, interrogo-me frequentemente se toda aquela gente que se
cruza comigo no metro, cafés (tão poucos tem Bruxelas) e nos restaurantes está
consciente das encruzilhadas que se abrem ao tão precário projeto europeu. A máquina
funciona, se não fora por outros motivos pela simples inércia de existir. E as
minhas dúvidas aumentam quando uma conversa ali, outra acolá mostra que as tais
encruzilhadas estão bem longe das cogitações daquela massa de funcionários.
Não me custa admitir que o euroceticismo tem boas
condições para proliferar e será trágico que não se dê conta disso mesmo,
contrariando na base as origens do fenómeno. E como isto de reflexões algo céticas
é algo de similar às cerejas, no Libération de hoje fiquei arrepiado com uma
reportagem do jornal sobre um conjunto de territórios em que o desemprego
juvenil e de longa duração cresce explosivamente (Béziers, Valenciennes, Angers
e tantos outros) e que são territórios em que a Frente Nacional dispara como
rastilho seco. A derrocada da França será fatal para o projeto europeu e algo
de sinistro se passou à esquerda na política francesa. Hollande e Mélenchon destruíram
em tão pouco tempo um capital de confiança que as eleições lhe proprocionaramm
com eclipse trágico de ideias, mobilização, confiança.
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