domingo, 3 de novembro de 2013

MAIS NA CARTA

(Patrick Chappatte, International Herald Tribune, http://international.nytimes.com)


Daqui dou as minhas melhores boas vindas ao Gabinete de Assuntos Internacionais do Departamento do Tesouro dos EUA por se ter juntado, no seu mais recente relatório ao Congresso (de 30 de outubro), ao crescente rol de críticos da política económica alemã e das suas implicações sobre o conjunto da Zona Euro. Cito os períodos mais representativos dessa justa posição:

Para facilitar o processo de ajustamento na Zona Euro, os países com grandes e persistentes excedentes devem tomar medidas para acelerar o crescimento da procura interna e diminuir esses excedentes. A Alemanha tem mantido um grande excedente da balança de transações correntes durante toda a crise financeira e, em 2012, o excedente corrente nominal foi maior do que o da China. O ritmo anémico do crescimento da procura interna da Alemanha e a dependência das exportações têm impedido o reequilíbrio numa altura em que muitos outros países da Zona Euro têm estado sob severa pressão para limitar a procura e comprimir as importações para promover o ajustamento. O resultado líquido tem sido uma propensão deflacionária para a Zona Euro, bem como para a economia mundial. Um crescimento da procura interna mais forte nas economias europeias excedentárias, particularmente na Alemanha, ajudaria a facilitar um reequilíbrio duradouro dos desequilíbrios na Zona Euro.

As reações não se fizeram esperar, com o vice-director geral do FMI a manifestar a sua concordância sublinhando que a eliminação dos défices excessivos nos países do Euro necessita que os outros países reduzam os excedentes e que a Alemanha poderia fazer mais para contribuir para a estabilização da economia da Zona Euro se aumentasse o seu consumo interno, chegando mesmo a apelar a uma descida do excedente comercial da Alemanha para um valor “apropriado”.

Um editorial do FT veio também pontuar a sua concordância – “os Estados Unidos têm razão em criticar a Alemanha sobre a sua política económica” –, enfatizando o injustificado “namoro” europeu com a deflação (em outubro a inflação na Zona Euro caiu 0,7% e atingiu mínimos de quatro anos), os riscos de uma deflação Japanese-style na Zona Euro, o papel que a Alemanha poderia desejavelmente desempenhar para o contrariar (“a Alemanha devia ajudar os seus parceiros mais débeis durante esta transição difícil, baixando impostos e deixando os salários subir”, assim fazendo com que “os trabalhadores alemães tivessem mais dinheiro para gastar em importações”) e a sua insuficiência para evitar uma depressão prolongada sem que o BCE recrudesça a sua ação (“quando o conselho de governadores do BCE se reunir na próxima semana, deve imediatamente cortar a sua política de taxas de 0,5% para 0,25%”).

Ao invés, e como não podia deixar de ser, o ministro alemão da Economia e Tecnologia reagiu proclamando que “o excedente comercial reflete a forte competitividade da economia alemã e a procura internacional de produtos alemães de alta qualidade”. Mas este ortodoxo Philipp Rösler é do Partido Liberal e está de saída – quem sabe se o seu sucessor não verá mais longe na perspetiva da defesa de interesses de mais longo prazo para Berlim e o resto do mundo...

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