quinta-feira, 28 de novembro de 2013

ARRUFOS “LOW COST”

(Fotografia de François Lenoir - Reuters para o Libération)


As companhias e o tráfego “low cost” revolucionaram integralmente o transporte aéreo, trazendo para este meio de transporte uma massa de procura que se encontrava afastada, senão totalmente marginalizada e impedida de o frequentar. Com a evolução vertiginosa do número de voos e passageiros, um outro fenómeno tendeu a instalar-se que consistiu na forte concorrência entre infraestruturas aeroportuárias para acolher esses voos e sobretudo os centros de organização, distribuição de tráfego e de assistência técnica das principais companhias.
Nestes dois dias de trabalho em Bruxelas (algo céticos por motivos que analisarei noutra oportunidade), dei com a controvérsia instalada e ao rubro entre a região da Wallonie, a região de Bruxelas e o seu principal aeroporto (Zavantem) situados na área de influência flamenga. São conhecidas as dificuldades de convivência entre flamengos e valões e por isso não seria nada de novo o que encontrei. Mas a questão é interessante, sobretudo porque a controvérsia resulta de uma simples decisão de uma entidade externa às duas regiões. O que aconteceu então?
A Ryanair, que outra companhia poderia ser, voa para a Bélgica a partir de uma multiplicidade de destinos, concentrando os seus voos no aeroporto de Charleroi, a sul de Bruxelas, zona da Wallonie, sendo responsável pelo tráfego de mais de 5 milhões de passageiros, num total para a Europa estimado em 2012 em 80 milhões. Dito de outro modo, a Ryanair garante a um aeroporto manifestamente menos amplo e infraestruturado, o de Charleroi, algo de muito próximo do movimento do aeroporto de Sá Carneiro no Porto. Não há números rigorosos sobre tal afluxo de apoios assegurados pela região da Wallonie, através de uma sociedade com 100% de capital regional. E sabemos que a Ryanair não é peca nas negociações que imprime a estes processos.
Ora, a Ryanair resolveu combater a concorrência de companhias especializadas em voos de empresários de negócios, não hesitando em voar por exemplo de Barcelona e Roma para o aeroporto central de Bruxelas, apesar do diferencial enorme de taxas aeroportuárias por passageiro (2 euros em Charleroi para 29 euros em Bruxelas, de acordo com o Le Soir de ontem). Ora bastou esta decisão para o caldo ficar entornado. O Aeroporto de Bruxelas diz que não sabe de nada, embora esteja claramente sobredimensionado para o tráfego que tem apesar da centralidade europeia da Cidade. A região da Wallonie atirou-se ao ar e, conversa já conhecida, fala de atitudes desleais do aeroporto de Bruxelas para com o aeroporto de Charleroi, eufemisticamente designado pelos valões de Bruxelas – sul. Arrufos low cost ou coisa bem mais graúda?
A Ryanair tem ignorado olimpicamente o ruído e ciente do seu poderia giza uma outra política de mercado para entrar no mercado dos negócios. Mas o problema principal aqui em questão é o do peso brutal que a companhia tem no tráfego de alguns aeroportos (80% em Charleroi), constituindo-se por isso em agente de muita força na sua estratégia negocial. No âmbito da revisão da estratégia de mercado e da aposta no mercado de negócios, outras alterações serão introduzidas como a possibilidade de transporte de um segundo saco de mão e baixa de custos no registo de bagagem ao balcão. As más línguas dizem, entretanto, que os resultados que a companhia irá apresentar não serão os mais confortáveis.

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