A intervenção de Larry Summers na Conferência
Anual de Investigação do FMI continua a suscitar uma série de importantes réplicas
em torno da ideia de estagnação secular que caracterizaria a economia americana
nos últimos anos, tornada mais evidente a partir do momento em que quatro anos
depois de se ter sustido o pânico financeiro a estagnação do emprego e do
investimento persistem.
O Flip Chart Fairy Tales (FCFT) tem hoje uma muito
sugestiva abordagem ao tema baseada nas razões que podem estar a justificar a
baixa intensidade da taxa de investimento. O argumento trabalha em torno de
argumentos aduzidos por uma obra recente de Andrew Smithers (The Road to
Recovery: How and Why Economic Policy Must Change) que me tinha
escapado e que o Economist recenseara numa das suas últimas edições. A explicação
é curiosa porque relaciona o comportamento da taxa de investimento com aspetos
organizacionais das empresas e sobretudo das sociedades anónimas.
A evidência suscitada por Smithers tem que ver
com a relação entre os investimentos realizados pelas empresas em equipamentos
e novos projetos e o montante de dividendos distribuídos aos acionistas. Esse rácio
terá passado segundo Smithers de 15 nos anos 70 para 2 nos tempos atuais.
Este comportamento deve ser conjuntamente
interpretado com a tendência dos tempos mais recentes para que o peso dos salários
no rendimento tenda a baixar fortemente enquanto tendência contrária se observa
no peso dos lucros. Ora, é conhecido o efeito dinâmico de um contexto de
rebaixamento de salários. Quando os salários são altos, as empresas necessitam
de investir para aumentar a produtividade e com isso contrabalançar aumentos
salariais e assim reduzir o custo unitário de trabalho.
O FCFT conclui assim: “(…) o modo como os
executivos são remunerados, com elevados bónus indexados ao valor das ações,
estimulou perspetivas de curto prazo e a extração de elevados lucros em
detrimento do investimento”. Ou seja, a estagnação secular também se
alimentaria de padrões éticos menos respeitáveis de gestores e altos
executivos, o que apontaria para a necessidade de uma melhor regulação dos
modelos de governação societária.
Na intervenção de Summers no Forum final da
conferência do FMI, há um aspeto que tem passado despercebido no debate em
curso. Quando alguém da audiência questiona o painel sobre as razões que
determinaram que, na economia americana, no período que evoluiu até ao Lehman
Brothers (2003-2007), as taxas de juro permaneceram tão baixas apesar da
euforia da bolha, Summers fala em dois argumentos: o mais conhecido é o do
excesso de poupança (batizado por Ben Bernanke de “savings glut”) que inundou a economia americana proveniente da
China e outros países asiáticos; o outro, muito caro a Summers e a DeLong, é o
do comportamento decrescente do preço relativo das Tecnologias de Informação e Comunicação
(equipamentos informáticos e sistemas de informação) no investimento. Sabendo da
relevância crescente deste tipo de bens na composição do investimento, a
descida do seu preço relativo estimada em 20% ao ano por Summers determina
naturalmente que em termos reais a mesma capacidade de investimento possa ser
atingida com menos recursos.
O tema é fascinante e mostra como a voz de peso
de Summers consegue agitar toda a blogosfera económica no espaço de pouco mais
do que duas semanas. Larry parece querer ofuscar a sua retirada da corrida ao
FED, impondo-se por outra via. E quem viu com atenção aquele debate final
percebeu que do homem que ocupava o lado esquerdo do palco (para quem o via de
frente) se desprendia um peso marcante de opinião, apesar da presença do ainda
Presidente do FED Ben Bernanke.
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