sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ECOS DA ESTAGNAÇÃO SECULAR




A intervenção de Larry Summers na Conferência Anual de Investigação do FMI continua a suscitar uma série de importantes réplicas em torno da ideia de estagnação secular que caracterizaria a economia americana nos últimos anos, tornada mais evidente a partir do momento em que quatro anos depois de se ter sustido o pânico financeiro a estagnação do emprego e do investimento persistem.
O Flip Chart Fairy Tales (FCFT) tem hoje uma muito sugestiva abordagem ao tema baseada nas razões que podem estar a justificar a baixa intensidade da taxa de investimento. O argumento trabalha em torno de argumentos aduzidos por uma obra recente de Andrew Smithers (The Road to Recovery: How and Why Economic Policy Must Change) que me tinha escapado e que o Economist recenseara numa das suas últimas edições. A explicação é curiosa porque relaciona o comportamento da taxa de investimento com aspetos organizacionais das empresas e sobretudo das sociedades anónimas.
A evidência suscitada por Smithers tem que ver com a relação entre os investimentos realizados pelas empresas em equipamentos e novos projetos e o montante de dividendos distribuídos aos acionistas. Esse rácio terá passado segundo Smithers de 15 nos anos 70 para 2 nos tempos atuais.
Este comportamento deve ser conjuntamente interpretado com a tendência dos tempos mais recentes para que o peso dos salários no rendimento tenda a baixar fortemente enquanto tendência contrária se observa no peso dos lucros. Ora, é conhecido o efeito dinâmico de um contexto de rebaixamento de salários. Quando os salários são altos, as empresas necessitam de investir para aumentar a produtividade e com isso contrabalançar aumentos salariais e assim reduzir o custo unitário de trabalho.
O FCFT conclui assim: “(…) o modo como os executivos são remunerados, com elevados bónus indexados ao valor das ações, estimulou perspetivas de curto prazo e a extração de elevados lucros em detrimento do investimento”. Ou seja, a estagnação secular também se alimentaria de padrões éticos menos respeitáveis de gestores e altos executivos, o que apontaria para a necessidade de uma melhor regulação dos modelos de governação societária.
Na intervenção de Summers no Forum final da conferência do FMI, há um aspeto que tem passado despercebido no debate em curso. Quando alguém da audiência questiona o painel sobre as razões que determinaram que, na economia americana, no período que evoluiu até ao Lehman Brothers (2003-2007), as taxas de juro permaneceram tão baixas apesar da euforia da bolha, Summers fala em dois argumentos: o mais conhecido é o do excesso de poupança (batizado por Ben Bernanke de “savings glut”) que inundou a economia americana proveniente da China e outros países asiáticos; o outro, muito caro a Summers e a DeLong, é o do comportamento decrescente do preço relativo das Tecnologias de Informação e Comunicação (equipamentos informáticos e sistemas de informação) no investimento. Sabendo da relevância crescente deste tipo de bens na composição do investimento, a descida do seu preço relativo estimada em 20% ao ano por Summers determina naturalmente que em termos reais a mesma capacidade de investimento possa ser atingida com menos recursos.
O tema é fascinante e mostra como a voz de peso de Summers consegue agitar toda a blogosfera económica no espaço de pouco mais do que duas semanas. Larry parece querer ofuscar a sua retirada da corrida ao FED, impondo-se por outra via. E quem viu com atenção aquele debate final percebeu que do homem que ocupava o lado esquerdo do palco (para quem o via de frente) se desprendia um peso marcante de opinião, apesar da presença do ainda Presidente do FED Ben Bernanke.

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