sexta-feira, 8 de novembro de 2013

NOTÍCIAS DA RÚSSIA


Por estes dias, o meu desconhecimento da língua russa dificultou obviamente o recurso à metodologia que habitualmente adoto para apanhar a aragem política, económica e social dominante nos países por onde passo ou que visito (leitura de jornais, visualização de programas televisivos, conversas de rua, café ou táxi). Mas, fiel aos meus tiques, lá fui fazendo o melhor que pude em prol da dama que sou naturalmente conduzido a cortejar.

Dos parcos esforços que me foram possíveis, a principal conclusão que retive foi a de que o problema atualmente mais sensível para o cidadão comum reside na imigração (e na sua crescente dimensão de ilegalidade), fenómeno sobretudo oriundo de alguns estados ex-soviéticos que se tornaram independentes com a implosão política de 1991. Com riscos de tensões e tumultos étnicos já bem percetíveis…

Nem de propósito – e ainda há quem defenda que não existem coincidências! – deparei-me hoje com um convergente texto do “Financial Times” sobre a matéria. O recurso aos gráficos que lhe servem de apoio ajuda a fundamentar a justeza daquela minha perceção e as razões e consequências mais profundamente estruturais que subjazem ao referido problema.

Enuncio três pontos que me parecem corresponder ao essencial. O primeiro deles decorre com clareza do gráfico acima, permitindo observar a brutal queda experimentada pela taxa de crescimento natural da população russa ao longo das duas últimas décadas e a sua parcial (mas muito insuficiente) compensação pela dinâmica dos movimentos de imigração.

O segundo surge ilustrado pelo gráfico abaixo, que explicita os mais de 11,3 milhões de novos residentes permanentes registados em vinte anos, com proveniência sobretudo localizada na chamada CIS (“Comunidade de Estados Independentes”) e em alguns dos seus países da Ásia Central – Uzbequistão, Tajiquistão, Cazaquistão e Quirguistão, especialmente. Gente que foi atraída pelo maior nível de vida da “mãe Rússia” e pela significativa procura de mão-de-obra nela suscitada pela combinação de um oil-fuelled boom e de uma demografia desfavorável.

O terceiro tem a ver com a agudização dos dilemas económico e geoestratégico provocada por aquela resistência (também identitária?) à imigração. Por um lado, na medida em que tudo indica que “nos próximos 10 ou 15 anos, a economia russa não poderá dispensar os trabalhadores imigrantes e até a níveis mais elevados”. Por outro lado, na medida em que qualquer introdução de restrições migratórias por parte das autoridades russas sempre constituirá um entrave à expressão das ambições de Putin (manutenção de um estatuto de superpotência e necessária dominação no seio de um bloco comercial regional versus “pequena Rússia” ou permissividade às permanentes tentativas de influência da China na região).

Sublinho, a terminar, que só a conjugação da pobreza das minhas fontes com a maior sofisticação do tema me impede de aqui tomar em consideração as movimentações ucranianas em curso no gás e as suas possíveis implicações sobre a questão energética à escala global – um tema que fia muito mais fino…

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