quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O PICARETA BARROSO



O excedente excessivo da Alemanha continua a despertar toda a série de reações, contraditórias, desproporcionadas, equivocadas, politicamente corretas.
Depois da Comissão Europeia ter sido obrigada por força dos próprios regulamentos que criou a abrir investigação em torno do excedente estrutural excessivo dos alemães (investigação que não é simétrica da dos défices excessivos, pois esta conduz a penalidades o que não acontece com a primeira), o picareta Barroso lá veio naquele jeito que lhe é peculiar dar uma no cravo, outra na ferradura. Tentando sossegar a opinião pública alemã (o que é de uma hipocrisia de todo o tamanho já que os alemães estão na prática borrifando-se para essa investigação), Barroso picaretou em torno de argumentos conhecidos, que é bom para a Europa ter uma Alemanha competitiva, que bom seria haver na Europa muitas Alemanhas e um pouco a contragosto lá teve que dizer que o fenómeno era estrutural, que iam analisar e que depois diriam alguma coisa.
Ora, como todo o economista de mente aberta sabe, a questão não está no problema da Alemanha ser competitiva e sendo-o, não há propriamente uma questão de grau, dever ser mais ou menos competitivo. Isso seria um contrassenso económico. O problema não é esse e os alemães conhecem-no bem desde a raiz da constituição da zona euro. O problema é que a Alemanha tem um excedente externo estrutural (estimado para 2013 em 215 mil milhões de dólares e praticamente equivalente ao da China) não no reino imaginário de uma moeda alemã mas no quadro de uma zona euro e esse não é um espaço qualquer. É um espaço económico e monetário em que não há mecanismos automáticos capazes de corrigir a situação permanente excedentária de um grupo de países e permanentemente deficitária de um outro grupo determinado.
Para além disso, tal como Martin Wolf corretamente o assinala, o excedente estrutural externo alemão significa que o produto excede a despesa alemã e que por isso a economia alemã “importa a procura que não consegue gerar internamente”. Assim sendo, tudo depende se essa procura externa é solvente, ou seja se os países importadores de bens e serviços alemães encontram eles próprios receitas ou financiamento para solver as suas responsabilidades para com os alemães. Escutemos o que Wolf nos diz: “(...) Nas condições atuais, quando a taxa de juro oficial de curto prazo está próxima de zero e a procura tem uma deficiência crónica em todo o mundo, a importação de procura por um país excedentário constitui uma política de “beggar-my-neighbour” (feita à custa do vizinho): ela exacerba a debilidade económica global.
E mesmo que o euro pudesse desvalorizar-se para potenciar a recuperação das economias em maior dificuldade, Wolf conclui que a dimensão da União Europeia é demasiado grande para recuperar apenas por via das exportações, ou seja, à custa do mundo não europeu. O balanceamento interno será sempre necessário, coisa que o picareta Barroso não quer entender, porque se o fizesse colidiria com as forças que permitiram a sua ascensão na Comissão Europeia.
Falta de sentido não de Estado como hoje se diz muito, mas antes falta de sentido do que é o equilíbrio mundial. A história para eles não interessa, pois arrogam-se a presunção de a construir, não enxergando a sua pequena dimensão. E não me venham com argumentos do risco moral, segundo o qual uma repescagem dos infratores tenderia a gerar futuras novas infrações. O problema não é esse. Só há infração quando há jogo e este arrisca-se a não se realizar por falta de “alguns” concorrentes, esmagados pela desigualdade de forças.

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