O excedente excessivo da Alemanha continua a
despertar toda a série de reações, contraditórias, desproporcionadas,
equivocadas, politicamente corretas.
Depois da Comissão Europeia ter sido obrigada por
força dos próprios regulamentos que criou a abrir investigação em torno do
excedente estrutural excessivo dos alemães (investigação que não é simétrica da
dos défices excessivos, pois esta conduz a penalidades o que não acontece com a
primeira), o picareta Barroso lá veio naquele jeito que lhe é peculiar dar uma
no cravo, outra na ferradura. Tentando sossegar a opinião pública alemã (o que é
de uma hipocrisia de todo o tamanho já que os alemães estão na prática
borrifando-se para essa investigação), Barroso picaretou em torno de argumentos
conhecidos, que é bom para a Europa ter uma Alemanha competitiva, que bom seria
haver na Europa muitas Alemanhas e um pouco a contragosto lá teve que dizer que
o fenómeno era estrutural, que iam analisar e que depois diriam alguma coisa.
Ora, como todo o economista de mente aberta sabe,
a questão não está no problema da Alemanha ser competitiva e sendo-o, não há
propriamente uma questão de grau, dever ser mais ou menos competitivo. Isso
seria um contrassenso económico. O problema não é esse e os alemães conhecem-no
bem desde a raiz da constituição da zona euro. O problema é que a Alemanha tem
um excedente externo estrutural (estimado para 2013 em 215 mil milhões de dólares
e praticamente equivalente ao da China) não no reino imaginário de uma moeda
alemã mas no quadro de uma zona euro e esse não é um espaço qualquer. É um
espaço económico e monetário em que não há mecanismos automáticos capazes de
corrigir a situação permanente excedentária de um grupo de países e permanentemente
deficitária de um outro grupo determinado.
Para além disso, tal como Martin Wolf corretamente o assinala, o excedente estrutural externo alemão significa que o produto
excede a despesa alemã e que por isso a economia alemã “importa a procura que não
consegue gerar internamente”. Assim sendo, tudo depende se essa procura externa
é solvente, ou seja se os países importadores de bens e serviços alemães encontram
eles próprios receitas ou financiamento para solver as suas responsabilidades
para com os alemães. Escutemos o que Wolf nos
diz: “(...) Nas condições atuais, quando a taxa de juro oficial de curto prazo está próxima
de zero e a procura tem uma deficiência crónica em todo o mundo, a importação
de procura por um país excedentário constitui uma política de “beggar-my-neighbour”
(feita à custa do vizinho): ela exacerba a debilidade económica global.
E mesmo que o euro pudesse desvalorizar-se para
potenciar a recuperação das economias em maior dificuldade, Wolf conclui que a
dimensão da União Europeia é demasiado grande para recuperar apenas por via das
exportações, ou seja, à custa do mundo não europeu. O balanceamento interno será
sempre necessário, coisa que o picareta Barroso não quer entender, porque se o
fizesse colidiria com as forças que permitiram a sua ascensão na Comissão
Europeia.
Falta de sentido não de Estado como hoje se diz
muito, mas antes falta de sentido do que é o equilíbrio mundial. A história
para eles não interessa, pois arrogam-se a presunção de a construir, não
enxergando a sua pequena dimensão. E não me venham com argumentos do risco
moral, segundo o qual uma repescagem dos infratores tenderia a gerar futuras
novas infrações. O problema não é esse. Só há infração quando há jogo e este
arrisca-se a não se realizar por falta de “alguns” concorrentes, esmagados pela
desigualdade de forças.
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