A qualidade da governação ou, em termos mais
amplos, da chamada governança (governance) é cada vez mais uma variável
explicativa a que diferentes ciências sociais recorrem para justificar os
resultados diferenciados dos processos de desenvolvimento às mais variadas
escalas. A relevância do tema tem conduzido os investigadores a estabilizar um
conjunto de indicadores do que pode convencionar-se ser uma boa governação ou
uma elevada capacidade de governance. A base de referência mais
conhecida tem origem no Banco Mundial e chama-se World Bank’s Worldwide Governance Indicators.
Andrès Rodriguéz-Pose é hoje um dos
investigadores em geografia económica mais prestigiados no mundo, sobretudo
devido ao seu trabalho de econometria para a geografia económica desenvolvido
na London School of Economics.
Juntamente com Roberto Ezcurra, Pose publica no VOX EU um artigo sobre a relação existente entre a qualidade da governação e o
grau de desigualdade espacial dos países. Dada a proficiência econométrica do
autor, a relação encontrada surge bastante credível, pois a relação inversa
encontrada entre as duas variáveis resiste bem a uma série imensa de testes e à
consideração não só de outras variáveis explicativas, mas também de diferentes
indicadores de desigualdade espacial e de qualidade da governação.
Os resultados de Pose vêm confirmar o que
intuitivamente muitos de nós que têm trabalhado com o tema das desigualdades
espaciais tinham encontrado de motivação para as suas práticas. O agravamento
das desigualdades espaciais reflete a incapacidade de mobilização plena dos
recursos dos territórios, a distribuição assimétrica e não territorializada das
políticas públicas e muitas vezes a captura das políticas públicas por grupos
de interesses das regiões mais favorecidas. Todos estes fatores apontam para
uma má governação, muitas vezes não escrutinada enquanto tal.
Chegaram-me aos ouvidos informações relevantes
sobre a tentativa desesperada da investigação científica localizada na Grande
Lisboa se querer financiar através dos programas operacionais regionais
sobretudo do Norte e do Centro, já que o estatuto da região de Lisboa não lhes
garante bolo suficiente e a dotação prevista para aquelas regiões é confortável.
E, pelos vistos num processo de avaliação que não convence os responsáveis
regionais, o potencial científico implantado na região de Lisboa apareceria com
níveis de excelência que explicariam a necessidade das regiões do Norte e
Centro se vergarem ao peso dessa excelência,
concedendo-lhes abrigo na sua dotação de fundos.
Não vou pronunciar-me sobre tal avaliação, até
porque não conheço nem a sua tramitação, nem a bateria de critérios que foi
utilizada. Mas cheira-me a esturro que as massas críticas científicas do Norte
nas ciências da vida e da saúde e nas engenharias não surjam nessa hierarquia
bem colocadas.
Mas neste ministério já nada surpreende. Crato é
uma barata tonta que nunca devia ter saído dos programas de Mário Crespo,
nestes dois últimos dias tão chocado com os despedimentos dos Estaleiros de
Viana do Castelo. E se Crespo continuar no mesmo registo, nem aí Crato terá
guarida.
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