segunda-feira, 25 de novembro de 2013

UMA EUROPA DE MARCHA ATRÁS?



Na véspera de uma viagem a Bruxelas, infelizmente não para ver o glorioso em dificuldades, mas em trabalho, e por via da crónica domingueira de Wolfgang Mϋnchau no Financial Times, passa pelo meu radar um relatório publicado pelo think-tank Bruegel de Bruxelas a que vale a pena estar atento. O relatório é assinado por Ashoka Mody, antigo funcionário do FMI, presentemente associado ao Bruegel e designa-se de “A Schuman Compact for the euro area”.
O relatório pode ser confrontado com outro contributo para o debate europeu também em circulação pela mão do Bruegel, assinado por 11 economistas, investigadores de ciência política e juristas alemães, designado de “Towards aEuro Union – without more integration, further crisis are loomimg”, datado de 18 de outubro de 2013.
O relatório de Mody pode ser visto como uma tentativa de racionalizar uma espécie de Europa em marcha atrás, eufemisticamente designada de repatriamento de políticas. Cheira-me que o teor do argumento vai interessar gente de quadrantes diversos, já que interessa fundamentalmente a diferentes adversários da chamada união política e de outras formas de aprofundamento. Colocando-se do lado dos que reconhecem que a união monetária não funciona com modelos de partilha de soberania e que não há condições políticas para instalar autoridades fiscais e bancárias europeias, o repatriamento de políticas é uma tentativa de racionalizar o(s) passo(s) atrás que muitos desejam. Três pactos preencheriam a função de coordenação do tal repatriamento de políticas: fiscal (nos termos em que foi já acordado), de dívidas soberanas (assegurando que serão os credores privados a assumir os riscos de endividamento excessivo) e bancário (redução da dimensão do sistema bancário da zona euro, suprimindo bancos indesejáveis).
Curiosamente, o documento do grupo Glienicker situa-se no lado contrário do repatriamento, mas antes no aprofundamento do processo europeu, chegando a propor um novo tratado para ultrapassar os limites do quadro jurídico hoje existente e um governo económico escolhido e escrutinado por um Euro-parlamento.
Os extremos estão lançados. Não está fácil encontrar as posições intermédias.

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