Os primeiro-ministros de economias do sul
afastados do poder na sequência do pós crise internacional e da crise das dívidas
soberanas parecem querer dar sinal de vida, embora segundo caminhos diferentes.
Sócrates optou pela ciência política e fez da tortura em democracia e do seu
regresso à TV pública os meios para afirmar que não tinha desaparecido. Zapatero,
que não teve a bondade da TV pública a oferecer-lhe um lugar de comentador, optou
também pelo clássico regresso sob a forma de livro, bem centrado na questão política
espanhola: “El Dilemna – 600 días de vértigo”.
Não é sobre o livro que pretendo falar até porque
não o li, mas antes sobre a carta de Trichet (Banco Central Europeu) dirigida a
Zapatero a 5 de agosto de 2011, carta que já havia suscitado curiosidade pela
sua publicação, mas que o BCE sempre se recusara a divulgar e que Zapatero
decide agora integrar no próprio livro de regresso.
José Ignacio Torreblanca tem hoje no El País um bom artigo sobre o tema,
interpretando a carta como um documento revelador das anomalias de
relacionamento entre instituições, neste caso entre o BCE e os estados membros.
A carta de Trichet é a formalização de uma exigência de um conjunto de mudanças
que transcendem bastante o âmbito de intervenção do BCE (diminuições salariais,
menor poder sindical, legislação laboral), consideradas necessárias para que o
BCE comprasse no mercado secundário dívida espanhola. Essas exigências foram
sempre desmentidas por Zapatero, mas a publicação da carta constitui mais um
documento de história recente para compreendermos toda a antecâmara da crise
das dívidas soberanas.
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