Como previ em post anterior, a Conferência Anual
de Investigação do FMI realizada nos dias 7 e 8 de novembro em Washington (Crisis:Yesterday and Today) constituiu um marco importante do debate
macroeconómico em curso nos Estados Unidos induzido pelo simples facto de, 4
anos depois da crise de pânico financeiro ter sido sustida, a economia continua
sem recuperação evidente. Enquanto que na América se debate e fortemente, por cá
nesta escanzelada Europa, Picareta Barroso e Sonso Rehn esforçam-se por afastar
qualquer ponta de debate, preocupados com a estabilidade dos mercados (mas quem
corre com estas peças?).
Neste momento, estão on line todos os vídeos dos diferentes painéis e intervenções mais
marcantes e por isso acabo de passar fascinado cerca de hora e meia a reviver o
debate que fechou a Conferência – “Economic Forum: Policy Responses to Crisis”. Um debate de pesos pesados: Olivier
Blanchard a moderar, com a companhia de Ben Bernanke (de saída do FED), Stanley
Fisher a quem a Conferência prestou uma justa homenagem, Kenneth Rogoff e Larry
Summers. Hora e meia que equivale a uma leitura de vários manuais de
macroeconomia. Tenho algumas saudades das minhas aulas sobre Ciclos e Crises
Económicas, pois com este material punha toda uma turma a discutir.
Larry Summers é daqueles economistas que quando
fala ninguém fica indiferente. Muito poucos têm este dom, não sendo ele propriamente
um orador sedutor. Mas regra geral o que diz marca o debate, e a blogosfera
económica não ficou indiferente mal o vídeo ficou disponível e foi possível seguir
toda a última sessão. Isto também mostra a que velocidade o pensamento económico
é hoje debatido.
Larry parte da evidência já repetidas vezes aqui
discutida do comportamento estagnado da taxa de emprego (emprego/população) na
economia americana quatro anos depois da ação do FED ter contido o pânico
financeiro ocorrido em 2007-2008. E vai mais longe afirmando que a economia
americana precisou de uma bolha para, no período que decorreu até 2007, para se
aproximar de baixas taxas de desemprego, embora não gerando nem taxas de juro
muito altas (antes pelo contrário), nem inflação preocupante. Hoje, passados 4
anos do Banco Central ter desempenhado o seu papel, com a taxa de juro de curto
prazo próxima de zero, temos uma situação em que a chamada taxa natural de juro
(a taxa à qual a poupança e o investimento desejados seriam iguais com pleno
emprego) é negativa. E o que Summers sugere é que a situação vivida pode não
ser temporária. Daí a invocação de um velho conceito da economia de ascendência
keynesiana – a estagnação secular. E se for esta a tendência, então uma política
monetária e fiscal prudente para evitar a ocorrência de novas bolhas pode ser
penalizadora, pois a economia precisa de estímulo não de contenção. Numa situação
deste tipo, tal como Krugman o assinala, a poupança que constitui uma virtude
pessoal, transforma-se em vício social. É conhecida a evidência da sociedade
japonesa em plena deflação enfrentar o drama estrutural de uma população que
sempre se habituou a poupar, quando a sociedade japonesa necessitava avidamente
de consumo e não de poupança.
Antonio Fatas cavalga a mesma ideia comparando as
taxas de investimento e as taxas de juro reais nas últimas 4 expansões
americanas: à descida desta última não corresponde um aumento da taxa de
investimento como o raciocínio mais tradicional sugeria que acontecesse.
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