quarta-feira, 20 de novembro de 2013

ESTAGNAÇÃO SECULAR?



Como previ em post anterior, a Conferência Anual de Investigação do FMI realizada nos dias 7 e 8 de novembro em Washington (Crisis:Yesterday and Today) constituiu um marco importante do debate macroeconómico em curso nos Estados Unidos induzido pelo simples facto de, 4 anos depois da crise de pânico financeiro ter sido sustida, a economia continua sem recuperação evidente. Enquanto que na América se debate e fortemente, por cá nesta escanzelada Europa, Picareta Barroso e Sonso Rehn esforçam-se por afastar qualquer ponta de debate, preocupados com a estabilidade dos mercados (mas quem corre com estas peças?).
Neste momento, estão on line todos os vídeos dos diferentes painéis e intervenções mais marcantes e por isso acabo de passar fascinado cerca de hora e meia a reviver o debate que fechou a Conferência – “Economic Forum: Policy Responses to Crisis”. Um debate de pesos pesados: Olivier Blanchard a moderar, com a companhia de Ben Bernanke (de saída do FED), Stanley Fisher a quem a Conferência prestou uma justa homenagem, Kenneth Rogoff e Larry Summers. Hora e meia que equivale a uma leitura de vários manuais de macroeconomia. Tenho algumas saudades das minhas aulas sobre Ciclos e Crises Económicas, pois com este material punha toda uma turma a discutir.
Larry Summers é daqueles economistas que quando fala ninguém fica indiferente. Muito poucos têm este dom, não sendo ele propriamente um orador sedutor. Mas regra geral o que diz marca o debate, e a blogosfera económica não ficou indiferente mal o vídeo ficou disponível e foi possível seguir toda a última sessão. Isto também mostra a que velocidade o pensamento económico é hoje debatido.
Larry parte da evidência já repetidas vezes aqui discutida do comportamento estagnado da taxa de emprego (emprego/população) na economia americana quatro anos depois da ação do FED ter contido o pânico financeiro ocorrido em 2007-2008. E vai mais longe afirmando que a economia americana precisou de uma bolha para, no período que decorreu até 2007, para se aproximar de baixas taxas de desemprego, embora não gerando nem taxas de juro muito altas (antes pelo contrário), nem inflação preocupante. Hoje, passados 4 anos do Banco Central ter desempenhado o seu papel, com a taxa de juro de curto prazo próxima de zero, temos uma situação em que a chamada taxa natural de juro (a taxa à qual a poupança e o investimento desejados seriam iguais com pleno emprego) é negativa. E o que Summers sugere é que a situação vivida pode não ser temporária. Daí a invocação de um velho conceito da economia de ascendência keynesiana – a estagnação secular. E se for esta a tendência, então uma política monetária e fiscal prudente para evitar a ocorrência de novas bolhas pode ser penalizadora, pois a economia precisa de estímulo não de contenção. Numa situação deste tipo, tal como Krugman o assinala, a poupança que constitui uma virtude pessoal, transforma-se em vício social. É conhecida a evidência da sociedade japonesa em plena deflação enfrentar o drama estrutural de uma população que sempre se habituou a poupar, quando a sociedade japonesa necessitava avidamente de consumo e não de poupança.
Antonio Fatas cavalga a mesma ideia comparando as taxas de investimento e as taxas de juro reais nas últimas 4 expansões americanas: à descida desta última não corresponde um aumento da taxa de investimento como o raciocínio mais tradicional sugeria que acontecesse.

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