FOBIA INFLACIONÁRIA

O gráfico de Krugman acima apresentado descreve a evolução comparativa da base monetária da economia americana e dos preços ao consumo em áreas urbanas. Para não especialistas, a base monetária é o conjunto das notas em circulação numa economia e das reservas dos bancos comerciais depositadas no banco central. O interesse básico da base monetária é que ela constitui o elemento central através do qual o banco central controla a oferta de moeda à economia realizada pelos bancos através do crédito. O esquema simples é o seguinte: para qualquer empréstimo concedido pela banca comercial a um cliente, a abertura do correspondente depósito a favor do referido cliente implica que o banco em causa tenha de aumentar as suas reservas no banco central.

Ora, o que o gráfico mostra é que, apesar do forte crescimento da base monetária observado a partir do caso do Lehman Brothers, a fobia inflacionária dos republicanos mais radicais não passa, como o próprio Krugman afirma, de simples histeria. Várias razões podem explicar essa acalmia de preços. Mas a verdade é que seja pelo facto da economia se encontrar ainda com capacidade produtiva instalada não utilizada, seja por outros fatores, a fobia inflacionária nestas condições é patológica.

Ora, pela banda de cá, os últimos dados do Eurostat revelam que a inflação no mês de outubro passado se tenha situado em tendência decrescente em 0,7%. A questão relevante a discutir é se a Europa está perante indicadores que anunciam um processo deflacionário prolongando o clima recessivo à japonesa ou se, pelo contrário, teremos apenas uma deflação de curta duração. De qualquer modo, também a nível europeu a fobia inflacionária é um mau argumento para justificar a não concretização na zona euro de uma política de relançamento da atividade capaz de encurtar significativamente as ameaças recessivas. Mesmo que o BCE desça a taxa de juro de referência como alguns analistas sugerem, não parece ser apenas por essa via que o espectro deflacionário seja afastado.