Em época de profunda revisão dos paradigmas económicos
determinada pela incapacidade gritante do mainstream económico compreender o que
antecedeu e o depois de 2007-2008, com custos devastadores para a população
atingida pelas políticas de incompreensão, seria de esperar dos alunos
universitários de economia uma outra agitação de ideias. Mas pelo que se vai
sabendo e este vosso blogger já praticamente
há quatro anos está afastado do palco das aulas e das lides universitárias, o mainstream
económico conseguiu o que pretendia, gerando uma camada obediente de consciências
acríticas que absorvem tudo e o seu contrário. Ainda me recordo de alguns jotinhas
que passaram pelos cursos de economia sobretudo na década de 2000, cujo foco
estava longe de estar dirigido ao que se ensinava, mas antes num futuro que lhe
desse acesso às proximidades do poder. E com esse foco quanto mais acrítico
melhor, porque o contrário equivaleria a um desvio de rota, com custos assinaláveis.
Depois de se ter assinalado alguma agitação de
ideias em algumas universidades americanas (Harvard, por exemplo) e ter sido um
aluno de doutoramento que deu origem ao desabar do Excel de base dos estudos de
Rogoff e Reinhart sobre o limiar acomodável do peso da dívida pública no PIB, não
registei nenhum outro movimento estudantil sobre esta matéria.
O Guardian,
entretanto, tem dado alguma notícia e cobertura a um movimento de estudantes de
licenciaturas em Economia na Universidade de Manchester que no meu radar de notícias
desta natureza assume alguma relevância. O movimento chama-se Post –Crash Economics Society e o seu tópico fundador é a denúncia da “financialização”
das licenciaturas em Economia e o modo com,o a formação em economia se afasta
deliberada e estranhamente de discutir as explicações para a crise financeira
global deflagrada nos anos de 2007-2008. Ou seja, de acordo com afirmações de
representantes do movimento, os cursos continuam a ignorar olimpicamente a
crise, segundo uma despudorada e desesperada tentativa de reproduzir até à
exaustão o estado da arte da disciplina que já não é um estado da arte
reconhecido entre pares mas antes um corpo de pensamento em agonia, hoje refugiado
no formalismo e no controlo inaudito dos mecanismos de publicação e de progressão
na carreira. Simon Wren-Lewis e Alex Marsh têm dois bons textos sobre o significado do debate iniciado pelo Guardian em termos do futuro do ensino da economia no Reino Unido. Atenção também ao projeto do Institute for New Economic Thinking para reformular os manuais de macroeconomia à luz dos tempos atuais.
A anomia estudantil na área da economia constitui
um fenómeno paradoxal quando o desemprego de licenciados jovens começa a
engrossar e assim a emergir como um produto lateral de decisões de política
económica inspiradas precisamente por teorias e abordagens que a massa
estudantil não tem curiosidade em criticar.
As vozes do dono formam-se cedo.
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