domingo, 24 de novembro de 2013

POST CRASH ECONOMICS SOCIETY



Em época de profunda revisão dos paradigmas económicos determinada pela incapacidade gritante do mainstream económico compreender o que antecedeu e o depois de 2007-2008, com custos devastadores para a população atingida pelas políticas de incompreensão, seria de esperar dos alunos universitários de economia uma outra agitação de ideias. Mas pelo que se vai sabendo e este vosso blogger já praticamente há quatro anos está afastado do palco das aulas e das lides universitárias, o mainstream económico conseguiu o que pretendia, gerando uma camada obediente de consciências acríticas que absorvem tudo e o seu contrário. Ainda me recordo de alguns jotinhas que passaram pelos cursos de economia sobretudo na década de 2000, cujo foco estava longe de estar dirigido ao que se ensinava, mas antes num futuro que lhe desse acesso às proximidades do poder. E com esse foco quanto mais acrítico melhor, porque o contrário equivaleria a um desvio de rota, com custos assinaláveis.
Depois de se ter assinalado alguma agitação de ideias em algumas universidades americanas (Harvard, por exemplo) e ter sido um aluno de doutoramento que deu origem ao desabar do Excel de base dos estudos de Rogoff e Reinhart sobre o limiar acomodável do peso da dívida pública no PIB, não registei nenhum outro movimento estudantil sobre esta matéria.
O Guardian, entretanto, tem dado alguma notícia e cobertura a um movimento de estudantes de licenciaturas em Economia na Universidade de Manchester que no meu radar de notícias desta natureza assume alguma relevância. O movimento chama-se Post –Crash Economics Society e o seu tópico fundador é a denúncia da “financialização” das licenciaturas em Economia e o modo com,o a formação em economia se afasta deliberada e estranhamente de discutir as explicações para a crise financeira global deflagrada nos anos de 2007-2008. Ou seja, de acordo com afirmações de representantes do movimento, os cursos continuam a ignorar olimpicamente a crise, segundo uma despudorada e desesperada tentativa de reproduzir até à exaustão o estado da arte da disciplina que já não é um estado da arte reconhecido entre pares mas antes um corpo de pensamento em agonia, hoje refugiado no formalismo e no controlo inaudito dos mecanismos de publicação e de progressão na carreira. Simon Wren-Lewis e Alex Marsh têm dois bons textos sobre o significado do debate iniciado pelo Guardian em termos do futuro do ensino da economia no Reino Unido. Atenção também ao projeto do Institute for New Economic Thinking para reformular os manuais de macroeconomia à luz dos tempos atuais.
A anomia estudantil na área da economia constitui um fenómeno paradoxal quando o desemprego de licenciados jovens começa a engrossar e assim a emergir como um produto lateral de decisões de política económica inspiradas precisamente por teorias e abordagens que a massa estudantil não tem curiosidade em criticar.
As vozes do dono formam-se cedo.

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