domingo, 3 de novembro de 2013

FÉLIX, O SERENO



Uma das grandes realizações da atual maioria consiste em, por via do seus desconchavos e descalabro de governação, reabilitar personalidades e senadores de direita, os quais face ao destempero e desgoverno de quem nos governa começam a fazer figura de grandes senhores e a fazer parte de alternativas de governação que corram com estes meninos (na síntese feliz de António Lobo Antunes) que alguém convenceu serem políticos.
Vários exemplos deste grupo de personalidades em reabilitação acelerada pela dinâmica das coisas da governação já passaram por este espaço de opinião.
Bagão Félix é um deles.
Não sei se por via do contacto diário com as suas plantas e flores de estimação, se pelo facto de ter ganho uma distância crítica ao seu clube, a verdade é que a serenidade construtiva de Félix começa a fazer-se ouvir em contraponto do frenesim destemperado da atual maioria. No seu aparecimento semanal na SIC Notícias, normalmente em conversa com Ana Lourenço (mais um felizardo), ou noutras aparições e crónicas jornalísticas, Bagão Félix tem contribuído pedagogicamente e sem grandes alaridos para uma informação eficaz do cidadão comum, sempre com o número certo ou o gráfico mais sugestivo para mostrar que o rei vai nu e que os seus seguidores continuam a encobrir tal realidade sem pudor algum.
A entrevista de hoje no âmbito do Estado da Nação da TSF e do Diário Notícias é um exemplo dessa serenidade construtiva. Não me vou debruçar sobre a sua tese de que a saída da atual posição do país passará por uma coligação a três, envolvendo PS, PSD e CDS. Não é novidade e está de acordo com a orientação política do entrevistado. O que me interessa realçar é a sua sensata apreciação dos problemas de sustentabilidade da segurança social, colocando a raiz dos problemas não tanto na questão demográfica (que não significa que seja secundária), mas antes na dimensão do desemprego. E nessa linha de raciocínio o entrevistado trouxe à discussão o problema central dos baixos ritmos de variação da produtividade da economia portuguesa, os quais com uma maior intensidade de crescimento resolveriam os problemas de sustentabilidade do sistema.
E de facto esta questão é crucial. A esmagadora maioria das pretensas reformas estruturais que a governação atual, apoiada no memorando de entendimento, tem produzido pouco ou nada têm contribuído para atacar esse problema. Conseguir resultados nessa agenda não passa necessariamente por um Ministério da Economia pesado em termos de entidades e serviços por si tutelados. Ou seja, em termos do debate atual da reforma do Estado, trocaria de caras e sem hesitações um Estado muito mais “light” em termos de estruturas de governação económica pela defesa intransigente de limiares mínimos de proteção social e de um maior impacto redistributivo das políticas sociais. É com este tipo de escolhas que uma alternativa de governação pós Troika ou pós eleições deve ser clara e transparente. De facto, a concertação económica e social que tem vindo a ser concretizada no âmbito do Conselho Económico e Social mostra à evidência que poderia conviver com um Estado económico bem mais leve.

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