Uma das grandes realizações da atual maioria
consiste em, por via do seus desconchavos e descalabro de governação, reabilitar
personalidades e senadores de direita, os quais face ao destempero e desgoverno
de quem nos governa começam a fazer figura de grandes senhores e a fazer parte
de alternativas de governação que corram com estes meninos (na síntese feliz de
António Lobo Antunes) que alguém convenceu serem políticos.
Vários exemplos deste grupo de personalidades em
reabilitação acelerada pela dinâmica das coisas da governação já passaram por
este espaço de opinião.
Bagão Félix é um deles.
Não sei se por via do contacto diário com as suas
plantas e flores de estimação, se pelo facto de ter ganho uma distância crítica
ao seu clube, a verdade é que a serenidade construtiva de Félix começa a
fazer-se ouvir em contraponto do frenesim destemperado da atual maioria. No seu
aparecimento semanal na SIC Notícias, normalmente em conversa com Ana Lourenço
(mais um felizardo), ou noutras aparições e crónicas jornalísticas, Bagão Félix
tem contribuído pedagogicamente e sem grandes alaridos para uma informação
eficaz do cidadão comum, sempre com o número certo ou o gráfico mais sugestivo
para mostrar que o rei vai nu e que os seus seguidores continuam a encobrir tal
realidade sem pudor algum.
A entrevista de hoje no âmbito do Estado da Nação da TSF e do Diário Notícias é um exemplo dessa serenidade construtiva. Não me
vou debruçar sobre a sua tese de que a saída da atual posição do país passará
por uma coligação a três, envolvendo PS, PSD e CDS. Não é novidade e está de
acordo com a orientação política do entrevistado. O que me interessa realçar é
a sua sensata apreciação dos problemas de sustentabilidade da segurança social,
colocando a raiz dos problemas não tanto na questão demográfica (que não
significa que seja secundária), mas antes na dimensão do desemprego. E nessa
linha de raciocínio o entrevistado trouxe à discussão o problema central dos
baixos ritmos de variação da produtividade da economia portuguesa, os quais com
uma maior intensidade de crescimento resolveriam os problemas de
sustentabilidade do sistema.
E de facto esta questão é crucial. A esmagadora
maioria das pretensas reformas estruturais que a governação atual, apoiada no
memorando de entendimento, tem produzido pouco ou nada têm contribuído para
atacar esse problema. Conseguir resultados nessa agenda não passa necessariamente
por um Ministério da Economia pesado em termos de entidades e serviços por si
tutelados. Ou seja, em termos do debate atual da reforma do Estado, trocaria de
caras e sem hesitações um Estado muito mais “light” em termos de estruturas de governação económica pela defesa
intransigente de limiares mínimos de proteção social e de um maior impacto
redistributivo das políticas sociais. É com este tipo de escolhas que uma
alternativa de governação pós Troika ou pós eleições deve ser clara e
transparente. De facto, a concertação económica e social que tem vindo a ser
concretizada no âmbito do Conselho Económico e Social mostra à evidência que
poderia conviver com um Estado económico bem mais leve.
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