sábado, 9 de novembro de 2013

MITOS NÃO INOFENSIVOS


As opções políticas alemãs voltaram a estar na berlinda esta semana. Não menosprezando os respetivos conteúdos, o mero somatório dos sugestivos títulos de dois artigos referencia quase tudo o que importa salientar: “Those Depressing Germans” (Paul Krugman, “New York Times”) e “Germany is a Weight on the World” (Martin Wolf, “Financial Times”).

Numa das suas mais conseguidas crónicas dos últimos tempos, Martin Wolf inclui o gráfico acima sobre as fontes de recuperação das exportações dos países da Zona Euro – largamente externas, pois claro! – e volta a pôr o dedo na ferida – já transformada em enorme chaga! – desta irreconhecível e lamentável Europa que sobre nós tem vindo a desabar sem parança e que desesperançadamente carateriza como “uma história trágica”.

Insisto em que se ouça o que ele diz e se registe o modo como o diz. Terminando assim: “Então, em resumo, o que está a acontecer? As respostas são: um surgimento furtivo da deflação; falta maciça de empregos; um frustrado reequilíbrio interno e um excesso de dependência relativamente à procura externa. No entanto, tudo isso é considerado como aceitável, desejável, até moral - de facto, um sucesso. Porquê? A explicação está em mitos: a crise deveu-se a má conduta orçamental em vez de a fluxos de crédito transfronteiriços irresponsáveis, a política orçamental não tem qualquer papel na gestão da procura, as compras de obrigações governamentais pelos bancos centrais são um passo para a hiperinflação e a competitividade determina excedentes externos e não o equilíbrio entre a oferta e uma procura insuficiente.
Estes mitos não são inofensivos - para a Zona Euro ou para o mundo. Pelo contrário, eles geram o risco ou de perpetuar os países membros mais fracos em depressões semipermanentes ou de conduzir, em termos finais, a um agonizante rompimento da própria união monetária. De qualquer forma, o projeto europeu não teria contribuído para a prosperidade mas para a pobreza; não para fomentar parceria, mas dor. Uma história trágica, portanto.

Embora os mais crédulos (e inocentes?) ainda estejam dispostos a pagar para ver o que poderá sair dos preparativos europeus que a entourage de Merkel tem vindo a fazer anunciar e do alegado compromisso para uma Comissão Europeia liderada pelo seu compatriota social-democrata Martin Schulz…

(Ingram Pinn, http://www.ft.com)

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