domingo, 17 de novembro de 2013

DURÕES E FURÕES



A entrevista de Martin Schulz ao “Expresso” é bem sintomática do que é a natureza última da política nos tempos que correm: um mundo em que os interesses e cumplicidades pessoais estão largamente acima das preocupações económico-sociais e das convicções ideológico-doutrinárias por que os protagonistas se dizem guiados.

O atual presidente do Parlamento Europeu e futuro candidato do PSE (e de Merkel?) a presidente da Comissão Europeia mostra quão hábil é no manuseamento dúplice da palavra – como quando refere que “eu não creio que Barroso seja culpado de tudo aqui em Bruxelas” (mas alguém crê em coisa tão radical?) – e quão eficaz é na exploração cínica do tempo e espaço – como quando perdoa ao fraco (“José Manuel Barroso era o presidente de uma Comissão que, sob a pressão da realidade da crise, teve de se defender contra uma estratégia de marginalização por parte de alguns Estados-membros, que preferiram o intergovernamentalismo”) para mostrar a sua força, ele que lidera um grupo negocial CDU-SPD sobre a política europeia vazio de ideias e sobredeterminado por uma viragem na dimensão institucional de que pretende ser o expoente (“O facto de que hoje esses mesmos países estejam a discutir o reforço do papel da Comissão mostra que, de vez em quando, é útil resistir”).

Enquanto isto, nem a simpatia pessoal nem a opção social-democrata de Schulz o inibem de apoiar o voto alemão quando se trata de impor sanções sobrepostas aos periféricos incumpridores...

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