terça-feira, 26 de novembro de 2013

AUSTERIDADE: UM MAL COM "SPILLOVERS"


Só agora me apercebi da publicação, com data de outubro, de um relevante estudo assinado por Jan in ‘t Veld nos “Economic Papers” da Comissão.

O trabalho tem vindo a assumir especial visibilidade pelo facto de o seu autor ser economista na Direção-Geral de Assuntos Económicos e Financeiros e deter responsabilidades de alto nível no domínio da modelização. Nessa perspetiva, e apesar da referencia explícita que é feita a que a sua assinatura é pessoal e não deve ser entendida como comprometendo a Instituição, os resultados das simulações realizadas com base no modelo QUEST sempre acabam por corresponder a um distanciamento crítico em relação à linha oficial da Comissão Europeia na gestão da crise das dívidas soberanas.

De facto, e limitado ao ultra-essencial, a análise por Jan in ‘t Veld dos processos de ajustamento ocorridos nos países da “periferia” e do “centro” da Zona Euro entre 2011 e 2013 conclui pela nocividade daqueles processos nos dois grupos de países. Ou seja: (i) as políticas orçamentais restritivas levadas a cabo nos países do sul não só exacerbaram a recessão nos países mais vulneráveis, especialmente nos que se encontram sob programa, como também espalharam os seus efeitos por toda a Zona Euro; (ii) as consolidações orçamentais simultaneamente levadas a cabo em todos os países da Zona Euro (“sincronização da austeridade”) deprimiram o crescimento da Zona Euro no seu conjunto – o impacto dos multiplicadores situa-se num intervalo entre 0,5 e 1, dependendo do grau de abertura, mas os efeitos negativos dessa simultaneidade adicionam mais 1,5 a 2,5 pontos percentuais aos impactos negativos.


Assim, e sem se posicionar numa lógica de contestação da austeridade como necessidade, Jan in ‘t Veld confirma claramente a possibilidade de uma melhor distribuição no tempo das respetivas medidas e de ganhos decorrentes de estímulos eventualmente produzidos nos países em melhores condições. Como refere Simon Wren-Lewis no seu blogue (“Mainly Macro”), a evidência resultante – “em três anos quase 10% do PIB da Zona Euro foi perdido sem necessidade através de erros de política” – “não é uma reivindicação selvagem de um macroeconomista louco, mas o que nos diz uma análise simples suportada por modelos mainstream”...

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