sexta-feira, 29 de novembro de 2013

FORÇA JOSÉ MARIA



Tal como o meu colega de blogue, também eu não tenho conhecimento técnico e sobretudo informação sobre a morte anunciada dos Estaleiros de Viana do Castelo suficientes para discutir o caso Estaleiros numa perspetiva estritamente técnica. Mas o desenvolvimento do processo é suficientemente relevante para justificar alguma reflexão da minha parte.
Betinho Aguiar, o tal que considerava que a Constituição teria de ser revista contra a tentação de um estado totalitário determinado por um Estado Social absorvente, ficará nos registos como o ministro de fim de linha, fechando para sempre os Estaleiros enquanto tais e atirando para o desemprego ou para a reforma precoce muito do saber fazer na construção e reparação naval. O processo é de facto pouco transparente, exigindo um livro branco rigoroso de registo e sistematização de todo o processo, para um completo escrutínio democrático e perceção de quem foi quem e quem fez o quê no afundamento definitivo da empresa.
Em meu entender, o Estado como gestor público dos Estaleiros de Viana do Castelo fica muito mal na fotografia e são estas experiências que colocam a gestão empresarial pública sob fogo e a expõem à máxima vulnerabilidade das alternâncias democráticas.
O problema de competitividade e de equilíbrio financeiro da empresa eram há muito tempo conhecidos, agravados em períodos de maior contração de mercado da construção e reparação naval. É provável, desconheço-o, que para esse problema de competitividade tenham também contribuído ineficiências internas e insuficiências de organização. O respeito pela mão-de-obra que fez a empresa justificaria que o problema fosse corretamente equacionado e colocado aos trabalhadores e seus representantes sindicais em busca de um pacto de empresa para prosseguir a recuperação. O problema das ajudas de estado ilegais que o governo de Sócrates terá segundo a Comissão Europeia concedido à empresa constitui outro exemplo de decisão que teria exigido um acompanhamento mais proactivo junto da Comissão.
Em alternativa, tivemos o mais completo ziguezaguear de decisões, até chegar a uma mais que intrigante concessão, com o Governo a limpar o caminho a uma Martinfer, ocupando-se das responsabilidades indemnizatórias do desemprego. Ziguezaguear em total desconformidade com a redescoberta da economia do mar, para cuja clusterização o saber fazer da construção e reparação naval parece crucial, até porque não se divisa no horizonte nenhuma outra atividade relevante que possa substituir o seu papel no cluster.
De toda esta insuficiência e incompetência dos agentes públicos, salva-se o Presidente José Maria Costa, coerente e obstinado, e ao qual não podemos associar qualquer sinal de desistência ou de desatenção. E não foi seguramente por sua culpa e falta de avisos seus que os Estaleiros ficam agora entregues a uma interrogada capacidade da Martinfer para tirar partido do saber fazer local.

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