domingo, 12 de julho de 2015

A ALEMANHA NÃO QUER A GRÉCIA NO EURO




(Até ao domingo nos retiram o sossego)

Parece evidente que sem um pronunciamento facilitador e incentivador por parte da Alemanha os países renitentes em encontrar uma solução para a permanência da Grécia na zona euro como a Finlândia e as economias bálticas teriam mais contenção nas suas posições. A divisão instalada no seio do Eurogrupo entre a França, a Comissão Europeia e uma envergonhada Itália, de um lado, e o bloco mais renitente do outro só é possível com a liderança protagonizada por Schäuble. Parece também claro que o topete de Tsipras em questionar a ordem estabelecida fez despertar os fantasmas mais assustadores e que se do lado grego estivesse outra força política a Alemanha já teria contribuído para forjar uma solução. A lógica de funcionamento do Eurogrupo está há muito tempo desenhada, está preparada para ministros obedientes e não dispostos a questionar as posições alemãs e permanentemente esperançados na retribuição vinda do diretório.

Elisa Ferreira tem hoje um artigo muito corajoso no Público pois conclui aquilo que um pensamento honesto é obrigado a concluir. Tsipras pode ser questionado, interpelado, odiado, tudo o que quisermos atribuir-lhe mas mostrou aquilo que já era demasiado evidente, que é possível questionar o pensamento único imposto pelo dictat macroeconómico alemão e no fundo é isso a que Schäuble designa de destruição da confiança. Imagino o que Tsipras irá ser obrigado a ouvir e a ter de demonstrar para merecer a confiança de um terceiro resgate quando comparado com o que foi exigido aos incumpridores da Nova Democracia. Ninguém do lado comandado pelo pensamento alemão parece interessado em colocar do outro lado da balança a caixa de pandora sistémica que pode abrir-se na zona euro com a saída da Grécia. A negociação parece ser conduzida apenas com o objetivo de não comprometer a lógica dos ajustamentos austeros e desproporcionados. Tsipras talvez compare a venda da alma com a incerteza sistémica de uma saída forçada e se ofereça para sacrifício. Nunca um fim de tarde de domingo foi tão tenso e incómodo, ainda que vivido à distância.

E até o Nobel Vargas Llosa, talvez nos últimos tempos inebriado pelo seu namoro com Isabel Preysler, permanentemente recauchutada nas suas manifestações e protuberâncias mais íntimas, vem pregar na mesma missa de que o SYRIZA veio interromper a luz do túnel que se vivia já na Acrópole, na senda redentora das melhorias tornadas possíveis pelos sacrifícios de irlandeses, portugueses e espanhóis, seus companheiros de infortúnio. Ou seja, nessas condições de redenção interrompida, clamando aos fiéis que os gregos são cegos, não viram a luz ao fundo do túnel e assim se entregaram nos braços do SYRIZA, demónio dos demónios. Só um milagre os poderá salvar dessa cegueira.

Já não há pachorra para aguentar tanta imbecilidade, mesmo com a calma de domingo e Santa Tecla ao fundo.

Em contrapartida, vale a pena ler as palavras de Lawrence Summers no Financial Times interrogando o mundo se de facto quer resolver a instabilidade financeira não com incrementalismos táticos e de circunstância mas com mudanças mais radicais. Mas isso é conversa demasiado profunda para as Preysler e Llosas deste mundo.

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