(Até ao domingo nos retiram o sossego)
Parece evidente que sem um pronunciamento facilitador e incentivador por
parte da Alemanha os países renitentes em encontrar uma solução para a permanência
da Grécia na zona euro como a Finlândia e as economias bálticas teriam mais
contenção nas suas posições. A divisão instalada no seio do Eurogrupo entre a
França, a Comissão Europeia e uma envergonhada Itália, de um lado, e o bloco
mais renitente do outro só é possível com a liderança protagonizada por Schäuble.
Parece também claro que o topete de Tsipras em questionar a ordem estabelecida
fez despertar os fantasmas mais assustadores e que se do lado grego estivesse
outra força política a Alemanha já teria contribuído para forjar uma solução. A
lógica de funcionamento do Eurogrupo está há muito tempo desenhada, está
preparada para ministros obedientes e não dispostos a questionar as posições
alemãs e permanentemente esperançados na retribuição vinda do diretório.
Elisa Ferreira tem hoje um artigo muito corajoso no Público pois conclui
aquilo que um pensamento honesto é obrigado a concluir. Tsipras pode ser
questionado, interpelado, odiado, tudo o que quisermos atribuir-lhe mas mostrou
aquilo que já era demasiado evidente, que é possível questionar o pensamento único
imposto pelo dictat macroeconómico
alemão e no fundo é isso a que Schäuble designa de destruição da confiança. Imagino
o que Tsipras irá ser obrigado a ouvir e a ter de demonstrar para merecer a
confiança de um terceiro resgate quando comparado com o que foi exigido aos
incumpridores da Nova Democracia. Ninguém do lado comandado pelo pensamento
alemão parece interessado em colocar do outro lado da balança a caixa de
pandora sistémica que pode abrir-se na zona euro com a saída da Grécia. A
negociação parece ser conduzida apenas com o objetivo de não comprometer a lógica
dos ajustamentos austeros e desproporcionados. Tsipras talvez compare a venda
da alma com a incerteza sistémica de uma saída forçada e se ofereça para sacrifício.
Nunca um fim de tarde de domingo foi tão tenso e incómodo, ainda que vivido à
distância.
E até o Nobel Vargas Llosa, talvez nos últimos tempos inebriado pelo seu
namoro com Isabel Preysler, permanentemente recauchutada nas suas manifestações
e protuberâncias mais íntimas, vem pregar na mesma missa de que o SYRIZA veio
interromper a luz do túnel que se vivia já na Acrópole, na senda redentora das
melhorias tornadas possíveis pelos sacrifícios de irlandeses, portugueses e
espanhóis, seus companheiros de infortúnio. Ou seja, nessas condições de redenção
interrompida, clamando aos fiéis que os gregos são cegos, não viram a luz ao
fundo do túnel e assim se entregaram nos braços do SYRIZA, demónio dos demónios.
Só um milagre os poderá salvar dessa cegueira.
Já não há pachorra para aguentar tanta imbecilidade, mesmo com a calma de
domingo e Santa Tecla ao fundo.
Em contrapartida, vale a pena ler as palavras de Lawrence Summers no Financial Times interrogando o mundo se de facto quer resolver a instabilidade
financeira não com incrementalismos táticos e de circunstância mas com mudanças
mais radicais. Mas isso é conversa demasiado profunda para as Preysler e Llosas
deste mundo.
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