(Hermann Josef Abs, presidente do Banco Central alemão assina em 1953 a anulação de 50% da dívida alemã)
(Simplesmente os factos mas também a investigação
de Rogoff e Reinhart aconselhariam a reestruturação da dívida grega)
Já aqui tinha dado a palavra a Thomas Piketty quando ele se dirigiu em
termos nada meigos à arrogância alemã dos tempos de hoje (protagonizada pelo
pensamento Schäuble) quando confrontada com os perdões de dívida de que a
Alemanha beneficiou ao longo da história.
Eduardo Porter na sua coluna prestigiadíssima no New York Times retoma o
tema e foca-se na combinação dos factos históricos com a investigação sobre o tema
de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart.
O facto histórico respeita à anulação de 50% da dívida alemã no pós-Segunda
Guerra Mundial, aqui representado pela imagem do então Presidente do Banco Central
alemão a assinar esse acordo, claramente então bem menos arrogante do que o seu
homónimo de hoje Weidmann. Aliás, no pós-Primeira Guerra Mundial Keynes
tinha-se batido como um leão contra o pensamento então dominante na Europa
vencedora, tentando dissuadir esse pensamento no sentido de uma maior tolerância
económica para com os alemães a favor do reequilíbrio da economia mundial. As
suas palavras não foram totalmente ouvidas e a sequência de acontecimentos do
entre duas guerras na Alemanha haveria de dar razão a Keynes. Sem a anulação da
sua dívida de então em 50% a Alemanha não teria conseguido o seu conhecido “milagre
alemão”. Pois, a história é incómoda, mas conhecê-la e interpretá-la é coisa
que as memórias curtas deixaram deteriorar para nossos males.
A investigação de Rogoff e Reinhart, que para mim continuou válida apesar
do aproveitamento político de que a sua obra foi alvo, é muito clara também a
este respeito. A esmagadora maioria das crises financeiras e de dívida só foi
ultrapassada com cortes relevantes de dívida. Porter retoma essa ideia e
sentencia: “Existe um padrão histórico recorrente? As
maiores crises de dívida só são ultrapassadas com significativas anulações do
valor facial da dívida. Quanto mais tempo demorar a cortar a dívida, maiores
serão as anulações necessárias”.
Tudo parece cristalino quando história e investigação credível se combinam
virtuosamente. Será necessário haver um default
generalizado para o compreender e assim enriquecer a base histórica de dados de
Rogoff e Reinhart?
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