quarta-feira, 8 de julho de 2015

LEMBRANDO A INCOMODIDADE DA HISTÓRIA

(Hermann Josef Abs, presidente do Banco Central alemão assina em 1953 a anulação de 50% da dívida alemã)



(Simplesmente os factos mas também a investigação de Rogoff e Reinhart aconselhariam a reestruturação da dívida grega)

Já aqui tinha dado a palavra a Thomas Piketty quando ele se dirigiu em termos nada meigos à arrogância alemã dos tempos de hoje (protagonizada pelo pensamento Schäuble) quando confrontada com os perdões de dívida de que a Alemanha beneficiou ao longo da história.

Eduardo Porter na sua coluna prestigiadíssima no New York Times retoma o tema e foca-se na combinação dos factos históricos com a investigação sobre o tema de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart.

O facto histórico respeita à anulação de 50% da dívida alemã no pós-Segunda Guerra Mundial, aqui representado pela imagem do então Presidente do Banco Central alemão a assinar esse acordo, claramente então bem menos arrogante do que o seu homónimo de hoje Weidmann. Aliás, no pós-Primeira Guerra Mundial Keynes tinha-se batido como um leão contra o pensamento então dominante na Europa vencedora, tentando dissuadir esse pensamento no sentido de uma maior tolerância económica para com os alemães a favor do reequilíbrio da economia mundial. As suas palavras não foram totalmente ouvidas e a sequência de acontecimentos do entre duas guerras na Alemanha haveria de dar razão a Keynes. Sem a anulação da sua dívida de então em 50% a Alemanha não teria conseguido o seu conhecido “milagre alemão”. Pois, a história é incómoda, mas conhecê-la e interpretá-la é coisa que as memórias curtas deixaram deteriorar para nossos males.

A investigação de Rogoff e Reinhart, que para mim continuou válida apesar do aproveitamento político de que a sua obra foi alvo, é muito clara também a este respeito. A esmagadora maioria das crises financeiras e de dívida só foi ultrapassada com cortes relevantes de dívida. Porter retoma essa ideia e sentencia: “Existe um padrão histórico recorrente? As maiores crises de dívida só são ultrapassadas com significativas anulações do valor facial da dívida. Quanto mais tempo demorar a cortar a dívida, maiores serão as anulações necessárias”.

Tudo parece cristalino quando história e investigação credível se combinam virtuosamente. Será necessário haver um default generalizado para o compreender e assim enriquecer a base histórica de dados de Rogoff e Reinhart?

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