quarta-feira, 1 de julho de 2015

PALAVRAS DURAS MAS SÁBIAS




(O autor de Hall of Mirrors pronuncia-se)

Barry Eichengreen é um economista americano (Universidade de Berkeley) responsável por uma das obras mais robustas e sugestivas sobre o confronto entre a Grande Depressão de 1929-30 e a Grande Recessão de 2007-2008, cuja leitura se recomendaria a todo o bicho careta que tem hoje poder de decisão sobre a tragifarsa em que estamos mergulhados.

No The Conversation, Eichengreen assina um texto em que acusa de incompetência política os protagonistas das atribuladas negociações entre credores internacionais (representados pelas instituições da Troika) e o governo grego.

O governo de Tsipras não escapa a esta acusação sobretudo pelos zigue zagues que impôs à negociação em vez de se manter firme na denúncia da irracionalidade das condições impostas pelos credores internacionais. Mas Eichengreen não é meigo nos comentários que dirige à outra parte.

Citemos:

Mais ainda, esta incompetência (a do governo grego, esclareça-se) é bem menos gritante do que a da Comissão Europeia, Banco central Europeu e FMI. As três instituições opuseram-se a uma reestruturação da dívida em 2010 quando a crise poderia ter sido resolvida a baixo custo. Continuaram a resistir em 2015, quando uma redução de dívida seria uma concessão óbvia a Mr. Tsipras e Companhia. O custo teria sido pequeno. Fingir pelo contrário que as dívidas gregas poderiam ser pagas dificilmente reforçou a sua credibilidade. Em vez disso, os credores calcularam primeiro a dimensão dos saldos orçamentais primários necessários para hipoteticamente pagar a dívida. Depois exigiram que o governo aumentasse impostos e cortasse despesa para gerar excedentes suficientes. Ignoraram o facto de que fazendo isso condenaram o país a uma depressão ainda maior. Privilegiando os seus balanços tiveram o governo grego e o resultado que mereciam. A implicação é clara. Nunca devemos subestimar a capacidade dos políticos fazerem a coisa errada. Tentarei da próxima vez lembrar-me disso.”

Palavras duras. Só não me convenço que as autoridades sob fogo ignorassem o risco de uma ainda maior depressão. Porque parece que o fundamental não é obter o pagamento da dívida, mas antes o de vergar o governo e o povo grego a um pensamento que não pode ser questionado.

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