(O autor de Hall of Mirrors pronuncia-se)
Barry Eichengreen é um economista americano (Universidade de Berkeley)
responsável por uma das obras mais robustas e sugestivas sobre o confronto
entre a Grande Depressão de 1929-30 e a Grande Recessão de 2007-2008, cuja
leitura se recomendaria a todo o bicho careta que tem hoje poder de decisão
sobre a tragifarsa em que estamos mergulhados.
No The Conversation, Eichengreen assina um texto em que acusa de incompetência
política os protagonistas das atribuladas negociações entre credores internacionais
(representados pelas instituições da Troika) e o governo grego.
O governo de Tsipras não escapa a esta acusação sobretudo pelos zigue zagues
que impôs à negociação em vez de se manter firme na denúncia da irracionalidade
das condições impostas pelos credores internacionais. Mas Eichengreen não é
meigo nos comentários que dirige à outra parte.
Citemos:
“Mais
ainda, esta incompetência (a do governo grego, esclareça-se) é bem menos
gritante do que a da Comissão Europeia, Banco central Europeu e FMI. As três
instituições opuseram-se a uma reestruturação da dívida em 2010 quando a crise
poderia ter sido resolvida a baixo custo. Continuaram a resistir em 2015,
quando uma redução de dívida seria uma concessão óbvia a Mr. Tsipras e
Companhia. O custo teria sido pequeno. Fingir pelo contrário que as dívidas
gregas poderiam ser pagas dificilmente reforçou a sua credibilidade. Em vez
disso, os credores calcularam primeiro a dimensão dos saldos orçamentais primários
necessários para hipoteticamente pagar a dívida. Depois exigiram que o governo
aumentasse impostos e cortasse despesa para gerar excedentes suficientes. Ignoraram
o facto de que fazendo isso condenaram o país a uma depressão ainda maior. Privilegiando
os seus balanços tiveram o governo grego e o resultado que mereciam. A implicação
é clara. Nunca devemos subestimar a capacidade dos políticos fazerem a coisa
errada. Tentarei da próxima vez lembrar-me
disso.”
Palavras duras. Só não me convenço que as autoridades sob
fogo ignorassem o risco de uma ainda maior depressão. Porque parece que o
fundamental não é obter o pagamento da dívida, mas antes o de vergar o governo
e o povo grego a um pensamento que não pode ser questionado.
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