(Sobre os sinais profundos de um País que não
mudou)
Pedro Santos Guerreiro tem um artigo corajoso no Expresso deste fim de
semana, quando denuncia a hipocrisia de uma elite que se reuniu, ufana dos seus
galões e das suas ambições já testadas no passado e com que resultados (sabemos
nós), para acolher a publicação do livro do inenarrável Miguel Relvas.
O significado deste ajuntamento nos tempos por que passamos é profundo e
suscita-me a mais pura sensação de nojo, tamanhos são o despudor e a capacidade
de fazer amizades do homem do aparelho, o tal cujo telefone resolvia todas as
dificuldades, como uma espécie de passaporte mágico, como aliás o próprio António
Costa revelou num Quadratura do Círculo, focado na capacidade de resolução de
problemas deste homem do aparelho. Esse estatuto é agora apresentado como a
melhor capacidade para conhecer o país real, o país que precisa de um
facilitador.
Pela reportagem de Ângela Silva para o mesmo Expresso, ficamos a saber que
a capacidade polarizadora do homem Relvas vai de Jorge Coelho, Luís Filipe
Vieira, João Proença. José Maria Ricciardi a Maria de Belém, tudo isso
misturado com o branqueamento despudorado de Durão Barroso, em movimentação
sabe-se lá para quê e para onde, com Passos a ajudar.
A facilidade com que em Portugal se colocam as amizades ao serviço de
factos políticos de grande significado é de pasmar e de facto o bloco central é uma longa
rede de amizades as mais estranhas que se possam imaginar.
Para além da sensação do mais puro nojo que se resolve focando os sentidos
em algo que valha mais a pena, o que fica é a perceção terrível de que nada
mudou. Pedro Santos Guerreiro sentencia que “a
porta escancarou-se para demonstrar que há escândalos políticos sem mortes políticas.
Ali o negócio é influência. E a influência estava ali, vibrava e gritava: eles
mandam. E isso não se referenda.” O contraponto com a situação
grega é de se lhe tirar o chapéu e merecer vénia.
São estes os traços mais profundos da sociedade portuguesa que resistem
persistentes, ufanos da sua impunidade, sem o mínimo pudor, fazendo dos vícios
mais profundos as suas virtudes, ou não é isso um facilitador, que move
montanhas do tem de ser e o que tem de ser tem muita força.
Vou precisar de uma boa bebida para afastar esta sensação de nojo
nauseante.
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