sábado, 4 de julho de 2015

NOJO, SIMPLESMENTE NOJO




(Sobre os sinais profundos de um País que não mudou)

Pedro Santos Guerreiro tem um artigo corajoso no Expresso deste fim de semana, quando denuncia a hipocrisia de uma elite que se reuniu, ufana dos seus galões e das suas ambições já testadas no passado e com que resultados (sabemos nós), para acolher a publicação do livro do inenarrável Miguel Relvas.

O significado deste ajuntamento nos tempos por que passamos é profundo e suscita-me a mais pura sensação de nojo, tamanhos são o despudor e a capacidade de fazer amizades do homem do aparelho, o tal cujo telefone resolvia todas as dificuldades, como uma espécie de passaporte mágico, como aliás o próprio António Costa revelou num Quadratura do Círculo, focado na capacidade de resolução de problemas deste homem do aparelho. Esse estatuto é agora apresentado como a melhor capacidade para conhecer o país real, o país que precisa de um facilitador.

Pela reportagem de Ângela Silva para o mesmo Expresso, ficamos a saber que a capacidade polarizadora do homem Relvas vai de Jorge Coelho, Luís Filipe Vieira, João Proença. José Maria Ricciardi a Maria de Belém, tudo isso misturado com o branqueamento despudorado de Durão Barroso, em movimentação sabe-se lá para quê e para onde, com Passos a ajudar.

A facilidade com que em Portugal se colocam as amizades ao serviço de factos políticos de grande significado é de pasmar e de facto o bloco central é uma longa rede de amizades as mais estranhas que se possam imaginar.

Para além da sensação do mais puro nojo que se resolve focando os sentidos em algo que valha mais a pena, o que fica é a perceção terrível de que nada mudou. Pedro Santos Guerreiro sentencia que “a porta escancarou-se para demonstrar que há escândalos políticos sem mortes políticas. Ali o negócio é influência. E a influência estava ali, vibrava e gritava: eles mandam. E isso não se referenda.” O contraponto com a situação grega é de se lhe tirar o chapéu e merecer vénia.

São estes os traços mais profundos da sociedade portuguesa que resistem persistentes, ufanos da sua impunidade, sem o mínimo pudor, fazendo dos vícios mais profundos as suas virtudes, ou não é isso um facilitador, que move montanhas do tem de ser e o que tem de ser tem muita força.

Vou precisar de uma boa bebida para afastar esta sensação de nojo nauseante.

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